Sem vergonha 0 digo aqui, Porque e justo e verdadeiro, De maos boas recebi Muitas roupas e diliheiro. Fazer bem a quem precisa, Diga-se, pois, com franqueza, Foi sempre a santa divisa Desta geute portuguesa. Vendo-me de brago ao peito E cara de sofrimeuto, Fosse quem fosse o sujeito, Em dar nao era avarento. E, as vezes, acontecia Procurar e nao saber, A pessoa a quem devia Tanto bem agradecer. La me vinha um filho meu C'o uma quantia na mao, Sem eu saber quem rha deu, Quem era o bom coragao. Almas ha que sao assim Amigas de bem-fazer, Que se ocultam com o fim De ninguem as conhecer. Tem de Deus a proteccao Quem da com a mao direita, Sem que a outra sua mao Veja a merce que foi feita. E nos que o bem aceitamos Dessa oculta e nobre mao, De certo que a abengoamos, A chorar de gratidao. E a chorar eu tambem ria, Porque achava muita graga A quem passava e dizia: — Estes sao chinas de raga. Primeiro olhavam p'ra mim, Para OS filhos e mulher, E procuravam por fim 0 que queriam saber. De onde sao, de onde vem? Perguntavam com bons modos; E com bons modos tambem Satisfazia-os a todos. Certa vez (foi num comboio), la eu p'ra Sacavem, Quando um ingenuo saloio Assim me disse tambem: — Desculpe-me o cabalhero De eu xer axim la da berga, E tambem bisbilhotero Por me meter na comberga. E p'ra nao ir espnntado, Xem xaber se xan chineses, Neste banco aqui prantado A olhar p'ra voxemeceses. Ja tenho bindo a cidade Mas confesso com franqueza, Que nunca bi na verdade Uma prefela chinesa! E que me lebe o diabo Mais a xua corte junta, Mas em mim e que nao caibo Xem fajer-lhe uma pregunta.
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