A TRES DIAS DE MACAU Dia Vinte e Tres de Junho ! Sem fazer contas a toa, Fazem hoje ja tres meses Que largamos de Lisboa. E tambem ha quatro dias Que saimos de Timor, Havendo, portanto, assim, Ja que contar ao leitor. Contarei que nesta altura Vamos navegando bem, Por entre montes e ilhas E que tanto encanto tem. Sempre muito ao pe de terra, Nunca me canso de ver Belezas que, lia verdade, Nem mesmo as sei descrever. Molucas e Filipinas Sao tambem muito formosas; Montanhas, umas virentes, Outras arduas, pedregosas. Montes verdes, plantagoes, Grandes serras, bastas matas; Por cima rastejam nuvens, Por baixo gemem cascatas. Varias ilhas e recifes Veem-se por todo o lado; Paisagens maravilhosas Por mim vistas com agrado. Ricos, belos lugarejos, Muitas vilas e aldeias, E tambem a tona d'agua, Grandes peix»° e baleias. Viagem tao agradavel, Como esta bem poucas ha; Cheia de belas surpresas Como nunca viram ja. E o Rovuma" sempre avante Ca vai direito a Macau, E eu morto, entao, por ehegar A terra do bom chau-chau. Pois quem me dera apanhar All ante um bom chau-chau, Ou dum bom koc-pai-cuat-fan, Na loja do Fat-Siu-Lau. Ja so nos faltam tres dias Para pormos pe em terra; Ver nossa linda Macau, Que tanta beleza encerra. E cada dia mais crescem Os grandes desejos meus De me ver nessa cidade Do Santo Nome de Deus. A bordo, sem variar, A comida e sempre igual: Carne, peixe, peixe e carne, Sempre o mesmo trivial. Ha dias, comi feijao, Meu pratinho preferido, Mas por andar tao fraquinho, Fez-iue mal, vi-me perdido. Apanhei uma indigestao Que ia indo para o charco; Portanto, quem dera ja Ver-me livre deste barco.
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