Vendilhoes com suas cestas Ja pouco ha na cidade; Burros, carrogas e bestas Tornou-se uma raridade. Os mortos nao cheiram mal, Porque e tambem moda nova Leva-los sem funeral 0 mais depresna p'ra a cova. E assim. por esto proc.-sso, Lisboa tem-se tornado A cidade do progresso, Porque esqueceu o passado. Antes pobre, mas modesta; Ei-la tao vaidosa agora, Que ja pouco ou nada resta Desses seus tempos d'outrora. Altos predios, ruas belas, A dizer-nos:—Aqui jaz Um bairro e muitas vielas C'os seus lampioes a gas. Em cada bairro que havia, Ergue-se a lindeza mteira. Se sepultou Mouraria, Mais a Praga da Figueira. E assim Lisboa orgulhosa, Criou tal realce e fama Que ja olha desdenhosa Para o seu Bairro de Alfama. Bairro este que inda existe E existira, me parece, Porque ate sera triste Se um dia desaparece. Do lindo Bairro de Alfama que saiu Portugal Nas caravelas do Gama, Zarco, Gil Eanes, Cabral. Portanto, o nobre Lisboa. Nao te envergonhes de Alfama, Nem da tua Madragoa Que te deram gloria e fama. Hoje inda ali, com > dantes, Prestam culto as tradigoes, Os vendilhoes ambulantes Com OS seus lindos pregoes. Inda bam que tu, Lisboa, Te mostras compadecida, Deixando que uma pessoa Governe ali sua vida. Ate mesmo o cioa o grnixa, (Que e a sua velha cantiga) Anda ali com sua caixa Sem que a lei muito o persiga. Muitos, por necessidade, Usando entao de mah'cia, Andam e.n plena cidade Sempre a fugir a policia. Quando e preso um vendilhao, Como em toda a parte agora, Larga a fazenda, ou entao, Paga a muita e vai-se embora. Mas fica logo avisado P'ra vender nos arredores, Porque de novo caqado As penas sao lhe maiores.
RkJQdWJsaXNoZXIy MTQ1NDU2Ng==