Quanto ao pobre c'rna o graixa, Fazem-lhe doutra maneira: Esoovas, panos e caixa, Vai tudo para a fogueira. Portanto, para engraxar, Em Lisboa. precisei deempenhos para arranjar Licenga dada por lei. Por muito rara excepcao, Assim a consegui eu, Gragas ao bom coracao Que sempre me protegeu. Protectora competente E atenciosa tambem, Querida por toda a gente Como pessoa de bem. Mais ninguem capaz seria De para mim adquirir Esta licenga, hoje em dia Dificil de conseguir. Tanto assim, que ao comegar A engraxar em Lisboa, 0 caso fez estranhar Sucedendo-me uma boa: Estando eu sossegado A engraxar um t'regues, Um civil mal encarado Prega-me dois pontapes ! E quando olhei com surpresa Para aquele figurao, Ele entao com ligeireza. Puxou pelo seu cartao. —Sou policia, faz favor Acabe la de engraxar, Mas depressa, esse senhor, Que e para me acompanhar. —Sim, senhor, com todo o gosto, Disse-llie eu por minha vez; Mas vou-lhe dar um desgosto, Vai pagar 0 que me fez ! —A licenga aqui a tem; Por((ue me prende nao sei; Pois, nao fiz mal a ninguem, Nem ando fora da lei ! o guarda a paisana ", entao, Banzado olhou para mim Com a licenga na mao, Balbuciando por fim: —Desculpe que eu nao sabia, Tem mil razoes, afinal; A licenga esta em dia E o senhor no seu local. —Eu que o julgiva um vadio, Tive atitudes molestas; Nao sei como conseguiu Ter uma licenga destas ! Ao ver a sua brandura E o seu arrependimento, Contei-lhe a verdade pura Sem qualquer ressentimento. Convidando-me por fim, Fomos aos copos de Ires, Ficando a ser para mim Um bom amigo e fregues.
RkJQdWJsaXNoZXIy MTQ1NDU2Ng==