991010349879806306

Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 160 o vice-rei da Índia, em que cada uma fosse continuando a sua derrota sem esperarem as mais naus da frota de Pernambuco e do Maranhão, com quem tinham saído do mesmo porto. Durou o mesmo vento até ao dia 26, no qual pelas dez horas da manhã se descobriu uma nau que não conhecemos se era inimiga, e por este respeito se safou4 a nossa fragata, e se fizeram outras mais diligências necessárias em ordem à peleja, no caso que a houvesse; mas a pouco perdemos a mesma nau de vista, e assim fomos continuando, ainda que com vento já menos favorável, a que se seguiu logo outro de todo contrário, que durou até o dia 30 de abril pela manhã, em que ainda a Nau da Índia se avistou, e então se entendeu ser ela a mesma nau que nos dias antecedentes tínhamos visto, e não conhecemos. No mesmo dia 30 de abril nos faltou todo o vento de repente por causa da terra da Ilha da Madeira, aonde chegámos pelas cinco horas da tarde, havendo-a visto pelas dez horas da manhã, quando já tínhamos também visto as Ilhas do Porto Santo e a Deserta; e daqui para diante não se tornou já mais a ver a Nau da Índia. No dia 2 de maio nos favoreceu o vento de manhã, e continuou no dia seguinte; e no dia 4 pela tarde se descobriram algumas embarcações, que por se não conhecerem nos obrigaram a safar a nossa fragata com toda a diligência; mas a poucas horas obedeceu uma a um sinal de peça5 que se lhe fez, e nos passou pela popa, e então soubemos serem estas embarcações as mesmas que iam para o Maranhão. Assim fomos continuando, e com vento favorável até o dia 14 de maio, em que nos principiaram as calmarias6, que ordinariamente se experimentam ao passar a Linha; e ainda que não tivemos as trovoadas, que outros ali encontram, e com que mais facilmente a Linha se passa; tivemos contudo algumas virações7 com que pouco a pouco nos fomos adiantando, e a passámos. No dia 18 de maio pela tarde avistámos uma nau, que com efeito não conhecemos, se bem que nos deixou a presunção de que era a Nau da Índia de que nos tínhamos apartado, e nesta suposição não houve movimento algum na nossa fragata, e nem no dia seguinte em que ainda se avistou; mas perdeu-se logo de vista por nos adiantarmos com um bom vento, e rijo, que nos favoreceu. No dia 21 de maio pela manhã, e também pela tarde, avistámos três embarcações, que se entendeu serem portuguesas, e por isso se não fez movimento algum na nossa fragata, mas fomos continuando até o dia 23, em que de todo nos faltou o vento depois de uma grande trovoada (que sempre estas pela maior parte costumam deixar naus em calmaria). E no dia 6 de 4 Safar, pôr ao largo. É um “arranjo que se pratica nos navios sempre que é necessário pôr a artilharia e manobra em estado de combate.” Freitas, “Safa-Safa” 304. 5 Tiros de peça que metodicamente se dão para a “inteligência do que se pretende explicar”, ou a manobra que se quer pôr em prática.” Freitas, “Sinais” 311. 6 As calmarias intertropicais, também chamadas doldrums, são um estado de estagnação ou depressão. As calmarias são precedidas de ventos alísios (ou ventos alisados) que sopram de leste para oeste na região do Equador. Estes ventos permitiram a travessia dos oceanos pelos navios à vela, favorecendo a expansão colonial e as rotas comerciais. 7 Ventos brandos e frescos.

RkJQdWJsaXNoZXIy NzM0NzM2