Transcrição em Português 163 duas fortalezas São João e Santa Cruz, que também nesta ocasião corresponderam; e salvámos também a um moço pardo do Rio de Janeiro, que andava já com pouco ou nenhum remédio flutuando nas ondas, que então eram grandes, sobre uma canoa, ou pequeno barco de pescar, que se lhe tinha virado com perda de três pessoas, que com ele andavam; mas se escapou deste perigo, não escapou de uma doença que teve no porto de Batávia, aonde morreu com todos os sacramentos. Assim fomos continuando a nossa derrota, buscando a altura de 34 graus do sul, e nela ou em pouco mais o Cabo da Boa Esperança, que com efeito não avistámos, e só supusemos montado nos fins de dezembro, pela cor das águas, que víamos mudadas; e nesta suposição fomos buscando a altura de 38 graus em que estão as Ilhas de São Paulo, e de Amesterdão11, para que continuando pelo mesmo paralelo as pudéssemos avistar, e então fazerem os pilotos seus pontos fixos; mas não as avistando se governaram pela estimativa, e fomos continuando, diminuindo a 7 graus do mesmo sul, de donde se navega para o mesmo leste até se avistar a terra. No dia 20 de fevereiro de 1726 nos achámos em 7 graus ao sul, e daí fomos a buscar a terra, a qual avistámos no dia 14 de março na Ilha do Príncipe, e Estreito de Sunda; e até este tempo tínhamos capeado em 29 noites com perda de bom vento, que nos faltava de dia, sendo disto causa o receio de que dessemos em terra antes de o esperarmos. No dia 5 de março pelas onze horas da noite se avistou pela proa da nossa fragata uma embarcação que não conhecemos, porque se foi retirando, e isto quando nós bem desejávamos falar-lhe para nos informarmos do sítio, e distância, em que nos achávamos da terra, e já com bem pouca água, mas ao depois soubemos em Batávia ser a mesma embarcação francesa, e uma que por lhe não darem os holandeses de Batávia socorro, o tomou por força de uma sua nau que entrou no Estreito. No mesmo dia 14 de março, em que avistámos o Estreito de Sunda o entrámos também, e aos 16 pela tarde demos fundo, a fim de se procurar algum prático12 nas várias embarcações dos malaios, que por ali andavam pescando, que nos guiasse até Batávia; mas não o achámos, pelo que fomos continuando até defronte da cidade de Bantão13, aonde também demos fundo (é esta cidade a Corte do Rei de Java, e em que assistem também os holandeses para o seu comércio, e guarda do mesmo rei). Logo que demos fundo saiu o capitão-tenente Henrique Nicolau à mesma cidade, aonde entendemos que haveria o prático, mas não o achou porque era holandês o governador a quem o pediu, e nem tão pouco se lhe quis aceitar uma carta, que o capitão de mar e guerra levava do enviado de Holanda assistente nesta Corte, para qualquer dos portos holandeses aonde chegássemos. 11 A Ilha de Amesterdão (português europeu), de Amsterdã (português do Brasil), ou Île Amsterdam (francês), deve o seu nome em honra da capital dos Países Baixos. É uma ilha francesa, situada no Oceano Índico a 37o 50’S 77o 33’E. 12 Piloto de embarcações, conhecedor e experiente na navegação. 13 Bantam, antiga cidade e sultanato da Ilha de Java, Indonésia. Localizada perto da atual cidade de Banten, na Baía de Banten, no extremo noroeste da Ilha de Java, ao norte de Serang. Atualmente em ruínas, foi o porto mais importante de Java para o comércio de especiarias desde o século 16 até aos finais do século 18, quando o seu porto assoreou.
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