Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 164 Na falta do dito prático, de que muito necessitávamos até entrar em Batávia fizeram os oficiais entre si consulta sobre se tomariam por força algum dos malaios, que andavam no mar, mas assentou-se que não era conveniente, porque se não escandalizassem os holandeses seus protectores, de quem esperávamos socorro para continuarmos a viagem, e também por se não exporem a tomar por força algum malaio, que ou não fosse prático, ou sendo-o, maliciosamente nos metesse em algum perigo, e nesta forma fomos buscando a Batávia, a cuja vista nos pusemos no dia 23 sem mais perigo, ou susto, que um que nos causou uma repentina voz de que a nossa fragata tinha dado em um baixo, em que com efeito não tocou, mas sempre passou por muito perto dele. Livre a nossa fragata deste baixo nos pusemos à capa esperando um prático, que o capitão- tenente foi buscar às nossas naus de Macao, que então se achavam no porto de Batávia, e com o que trouxe nos fizemos à vela no dia 25 de março, no qual pela tarde demos também fundo no mesmo porto, e antes de darmos fundo tinha o mesmo capitão -tenente ido pactuar com o general do mar e guerra holandês a forma da salva, que foi de sete peças de uma e outra parte, seguindo-se também a que deram as nossas naus de Macao, a quem a nossa fragata também correspondeu. Logo que demos fundo, foi o mesmo capitão -tenente também a terra saber do governador, se nos consentia naquele porto, e havia algum impedimento para nos refazermos e demorarmo-nos enquanto não chegasse a monção, e como o não houve, nos demorámos naquele porto até os 25 de abril em que com efeito novamente nos fizemos à vela para a cidade de Macao. É Batávia uma cidade de bastante grandeza, que os holandeses edificaram na Ilha de Java em altura de 6 graus do sul; eles a governam despoticamente e têm nela uma companhia opulentíssima, que faz negócio com toda a Ásia, saindo da mesma companhia todos os gastos, que se fazem com o governador, ministros de justiça, e mais cabos de guerra, e gente militar que a defendem. Da altura em que esta cidade se acha se pode coligir o temperamento do clima, que é certamente calidissimo14, e nocivo, como nós experimentámos; é, porém, abundantíssima dos frutos que produz a Ásia, e lhe não falta o bom que se cria na Europa, porque tudo os holandeses de lá levam para o seu regalo. Tem esta mesma cidade admiráveis e vistosos edifícios, e também são vistosas e agradáveis as mesmas ruas, porque pelas mais delas correm canais de água, em que os holandeses andam embarcados e se recreiam. O tratamento da gente é como na Europa, e são sem número as carruagens e cavalos que por elas tirão, ainda para quem as quer alugar. Servem-se os holandeses de malaios de Java, de quem os mais são seus cativos, e como a tais tratam os holandeses a todos os malaios que ali vivem, pois os castigam asperamente como eles merecem, porque são finos ladrões e atraiçoados. Também nesta cidade vivem muitos chinas, uns de cabelo que não estão ainda pela sujeição ao tártaro, e que o não reconhecem por senhor, e outros sem cabelo que reconhecem 14 Muito quente.
RkJQdWJsaXNoZXIy NzM0NzM2