Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 168 e tratamento do embaixador, a quem também deu o mesmo Senado com alguns particulares 1,700 taéis (que na nossa moeda fazem dezassete contos) para os mais gastos que se haviam de fazer na viagem à Corte de Pequim; e para o mesmo deu também mil taéis (que são dois mil e quinhentos cruzados). A província da Companhia de Jesus de Japão quinhentos taéis mais (que fazem 500 reis) à vice-província da China; e tudo isto se lhe entregou a ele que recebeu, como donativo, que se fez a Sua Majestade. Apenas entrámos em Macao logo o Senado fez aviso por meio dos tribunais, e ministros inferiores como é costume na China, ao Tu yuen de Cantão, a quem nós os europeus chamamos vice-rei, de como àquela cidade tinha chegado o Muito Reverendo António de Magalhães a quem o Imperador Kam Ky tinha mandado com um mimo para El-Rei de Portugal, de quem tinha sido recebido, e tinha chegado também um embaixador de Portugal para felicitar a exaltação do presente Imperador ao trono; e outro semelhante aviso fez também o Reverendo Padre António de Magalhães em carta, que escreveu ao Reverendo Padre José Pereira da Companhia de Jesus, que residia em Cantão para o participar ao mesmo vice-rei. Logo que o Reverendo Padre José Pereira em Cantão recebeu o aviso do Reverendo Padre António de Magalhães, lhe respondeu, dizendo, que o não participava ao vice-rei, enquanto não sabia, se lhe tinha chegado o aviso do Senado; porque não sabia, se eram ambos os avisos conformes, mas ainda assim avisou, que tinha buscado o vice-rei como quem o visitava, e sem declarar o fim da sua visita, que era ver se ele lhe falava na matéria da embaixada, de que já o supunha sabedor por via dos mandarins de Macao (são estes uns alfandegueiros, que ali assistem para cobrarem os direitos pertencentes ao seu Imperador) que se não costumam descuidar, e que o mesmo vice-rei lhe havia dito as palavras seguintes: “cá tenho notícia, que é chegado um homem grande do vosso reino, que vem pagar párias23 ao nosso Imperador”; -“Sim senhor [avisou também o padre que lhe respondera] também eu tenho notícia que é chegado a Macao esse homem grande, e que vem por embaixador do nosso Rei de Portugal ao vosso Imperador, e não a pagar-lhe párias, que costumam pagar-lhe os reinos vizinhos, e dependentes, em cujo número não entra o nosso reino de Portugal, e melhor (avisou também o padre que lhe dissera) vos está a vós, que um rei tão grande, e independente, como o nosso, mande de tão longe gratuita, e afectuosamente um embaixador só para felicitar a exaltação do vosso rei ao trono; de que vos está, que um rei pequeno e dependente lhe mande pagar estas tais párias”; e que a isto respondeu o vice-rei: “assim é, tendes razão, vede o que quereis que eu obre, que em tudo me tendes pronto”. Sem embargo deste aviso que fez o Reverendo Padre José Pereira entrou o embaixador a duvidar, se seriam bastantes os avisos do Senado de Macao, para que ele não concorria para se conseguir o passaporte de que necessitava para entrar na China, e passar à Corte de Pequim, e se resolveu nesta dúvida a fazer uma conferência sobre o modo mais conveniente de procurar o dito passaporte, convocando para ela o governador da cidade, e os Muito Reverendíssimos padres 23 Pagar tributo. Tributo que um príncipe pagava a outro em reconhecimento de superioridade. O beneficiário devia, por seu lado, garantir protecção militar ao tributário contra os inimigos.
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