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Transcrição em Português 169 da Companhia de Jesus, António de Magalhães, João Laureate, e o vice-reitor do Colégio de Macao com outros mais padres da Companhia que ali se achavam, e tinham vindo de Cantão, e por voto de todos se concluiu, que o meio melhor, e mais conveniente, era valer-se o embaixador do vice-rei de Cantão, escrevendo-lhe com o aviso de sua chegada em Macao, e pedindo-lhe lhe houvesse o passaporte de seu Imperador, a quem o mesmo embaixador devia também escrever, e pedi-lo por via do mesmo vice-rei. Na conformidade do que se ajustou na dita conferência, escreveu o embaixador duas cartas, uma para o Imperador, e outra para o vice-rei de Cantão, e ambas estava determinado a fazer-lhe remeter logo, mas suspendeu-se por alguns dias a remessa com a vinda do Reverendo Padre José Pereira a Macao, porque visitando ao embaixador, reprovava o meio que se tinha elegido de se escrever ao vice-rei, e dava por razão, que a versão da carta do embaixador se havia formar com letras, ou caracteres grandes, para denotar a preeminência de quem a mandava, segundo os costumes sínicos, e que então poderia o vice-rei, que era temerário e soberbo, responder-lhe com outras letras maiores, e tratá-lo nesta forma, como a seu inferior, que não era, e não há dúvida que estas razões do reverendo padre deixaram ao embaixador suspenso e cuidadoso, no que se havia de resolver, mas sempre concluiu, em que fossem as cartas, e que o mesmo padre as poderia levar e fazer entregar ao vice-rei, com quem tinha entrada, cujo favor havia segurado de antes, pois a sua carta para o vice-rei ia escrita com letras europeias, com que se costumam escrever todas as cartas entre os europeus, sem nenhuma distinção, e a versão dela, se devia entender feita por mandado do mesmo vice-rei, que podia mandá-la fazer com letras ou caracteres que ele muito quisesse. Nesta determinação veio por último a consentir o dito padre, levando consigo as cartas, para as entregar ao vice-rei de Cantão, achando modo conveniente, e logo o embaixador lhe advertiu, que em Cantão não desse resposta a perguntas que lhe fizesse, excepto, se lhe perguntassem pelo número das pessoas da sua comitiva, que eram 64 entrando 30 soldados24 que determinava levar para a sua guarda. Partiu o dito padre para Cantão aos 30 de junho, e no mesmo dia chegou a Macao um mandarim da casa do vice-rei, segundo ele mesmo disse ao governador de Macao, com quem unicamente falou, com mais dois mandarins inferiores do Hu pu, ou alfândega, que os chinas têm na mesma cidade. Logo que este mandarim se avistou com o governador, entrou a lisonjeá-lo, dizendo-lhe, que era o melhor governador e o mais benigno homem que tinha governado Macao. Que os chinas vizinhos reconhecendo-o assim, e que ele os favorecia, lhe viviam muito obrigados; e depois passou logo a perguntar-lhe que era feito das coisas que vinham para o seu Imperador, e se acaso ele governador as tinha em sua casa? O governador lhe respondeu, que era escusada a sua pergunta, quando em todo o Macao era pública a veneração e respeito com que as mesmas coisas tinham sido conduzidas das casas do embaixador para as suas; mais lhe perguntou o mandarim, que coisas eram as que El-Rei de Portugal mandava ao seu Imperador? O governador lhe respondeu, que o não sabia, mas que lhe constava serem 24 A comitiva era constituída por 64 elementos, dos quais 30 eram soldados.

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