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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 170 curiosidades de Portugal. Perguntou-lhe mais quando havia o embaixador de ir para Cantão? E o governador lhe respondeu, que o não sabia, sem primeiro o vice-rei de Cantão, a quem o Senado já tinha avisado da sua chegada, o mandar buscar, e conduzir pelos seus mandarins; e com estas respostas sem mais perguntar se despediu o mandarim, e partiu segundo se entendeu para Cantão. No dia 2 de julho se passou o embaixador para a Ilha Verde, que é pouco distante, e dos padres da Companhia, e o sítio mais divertido, que por ali há; ali esteve o embaixador até os 15 do mesmo mês, em que se recolheu às suas casas, e em todo este tempo foi assistido dos mesmos padres da Companhia e tratado com toda a grandeza. Também neste meio tempo chegou um aviso do mandarim da vila de Hiam xan Hyen, a que os nossos chamam a vila de Anção para o governador de Macao, em que o advertia da notícia que tinha, de que se andavam uns ladrões preparando para assaltarem a dita ilha, como já de outras vezes o tinham feito com perda e cuidado dos padres, e foi bastante o dito aviso para que logo o governador de Macao pusesse guardas ao embaixador, e mandasse todas as noites vigiar os mares no que ele mesmo se ocupou também a primeira noite depois do aviso. No dia 6 de julho chegou ao Senado de Macao a resposta do aviso que tinha feito a Cantão da chegada do embaixador e do Muito Reverendo António de Magalhães. Era a dita resposta do Puchim-çu [布政使] de Cantão, que é o tesoureiro da fazenda imperial, e vinha por meio do Chy hyen, ou governador da vila de Anção, nela ao depois de se repetir a substância do aviso do Senado, como é costume na China, passava o mesmo Puchim-çu a inquirir o tempo, em que o embaixador queria ir para Cantão, e juntamente o Reverendo António de Magalhães; perguntava mais pelos nomes dos sete padres, que o mesmo havia levado de Portugal, e pretendiam passar para Pequim concluindo em perguntar mais, se a nossa fragata tinha ido tão somente a levar o embaixador, ou levava mais algum género de negócio? E esta pergunta se encaminhava, como depois soubemos, a que a mesma fragata pagasse também direitos, a que lá chamam medição, como pagam todas as naus, que saem de Macao a fazer negócio quando se recolhem. O Senado lhe respondeu a todas estas perguntas pela maneira seguinte: “o embaixador de Portugal somente espera, que os ministros do Imperador lhe alcancem licença da Corte para logo partir para ela, e se não quer demorar em Cantão, nem em outra parte do caminho. O Reverendo António de Magalhães foi mandado a Portugal pelo Imperador aos 60 anos de seu reinado com um caguate25 (é o mesmo que nós chamamos mimo) a Sua Majestade portuguesa, de que se agradou muito; traz sete sujeitos dos quais pretende levar consigo dois, que são matemáticos para o serviço do Imperador. Ele se acha de presente maltratado, quando se achar convalescido mandará aviso ao mandarim para partir para Cantão. O barco é de Sua Majestade portuguesa, que o mandou para esta embaixada”. 25 Saguate, saugate. Presente, dádiva, mimo, o que se oferece nas ocasiões festivas ou em homenagem. Vocábulo corrente entre os escritores antigos, sobretudo na Ásia portuguesa e na África Oriental. Sebastião Rodolfo Dalgado, Glossário Luso-Asiático (Coimbra: Imprensa da Universidade, 1919) 2:271.

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