Transcrição em Português 171 No dia 9 do mesmo mês de julho chegou ao Senado de Macao outra chapa, ou aviso do vice-rei de Cantão por meio do Puchim-çu ou tesoureiro da fazenda, e do governador da vila de Anção, em que depois de se repetir a resposta supra do Senado, se lhe procurava outra vez o tempo em que o embaixador e o Reverendo António de Magalhães queriam passar para Cantão, e assim mais se o embaixador levava carta de Sua Majestade portuguesa, e algumas coisas mais para o seu Imperador, concluindo com tornar a pedir os nomes dos sete sujeitos, e a perguntar se os dois matemáticos tinham de mais alguma habilidade, e que de tudo lhe mandasse o Senado a resposta com clareza. O Senado lhe respondeu: “o embaixador somente espera, que os ministros do Imperador lhe alcancem licença da Corte para logo partir para ela, e não se quer demorar em Cantão, nem em outra parte do caminho: traz carta, e algum mimo de Sua Majestade portuguesa para Sua Majestade sínica (aqui houve uma equivocação, em que por então se não advertiu; e foi, que perguntando-se ao Senado, se o embaixador levava Piau ven, lhe respondeu com aprovação do mesmo embaixador, que sim sem advertir, e reparar, que Piau ven quer dizer carta de inferior para superior, e que este nome não devia dar-se à carta de Sua Majestade de Portugal, mas sim outro conveniente, que não denotasse inferioridade alguma, como é o nome Kue xu que quer dizer, carta de rei para rei, mas tudo com advertência superveniente, ao depois se emendou, porque nunca mais se respondeu, que o embaixador levava carta, quando se perguntava, se levava Piau ven) o Reverendo Padre António de Magalhães no fim deste mês irá para Cantão com os dois matemáticos para ir para Pequim”. No dia 10 do mês de julho chegou a Macao carta do Reverendo Padre José Pereira com a notícia de que tinha chegado a Cantão, e falado ao vice-rei, mas que lhe tinha parecido conveniente o não lhe entregar as cartas, que o embaixador escreveu por ele por se estar o mesmo vice-rei oferecendo para si, e em seu nome haver do Imperador o passaporte que se pretendia, e que o mesmo vice-rei ficava de o mandar avisar a Macao pelo Chifú26 que é o governador da cidade de Cantão, por quem mandaria também perguntar-lhe com individuação pelas coisas do mimo de Sua Majestade para o seu Imperador, e com este aviso se esperava em Macao a vinda do Chifú na forma da promessa do vice-rei ao dito padre. Não veio porém a Macao o dito Chifú e governador de Cantão, e só mandou em seu nome uma chapa ao Senado, em que lhe mandava dizer o seguinte: “que ele tinha aviso do mandarim da vila de Anção, de que tinha chegado a Macao uma nau de Portugal, em que ia o padre António de Magalhães e um embaixador de Sua Majestade a dar os parabéns ao seu Imperador da sua ascenção ao trono, e que o mesmo embaixador estava doente. Que mandava saber, quando queria ir para cima, e se levava alguma carta, ou mimo para o Imperador? Que para esta diligência mandava quatro jorabaças, ou intérpretes chinas, e um meirinho a sabê-lo dos senhores da cidade; que levando carta, ou mimo lhe remetessem a lista para ele fazer aviso aos mais tribunais”. 26 Chifu (chin. 知府 Chí-fú). O equivalente ao Alcaide na China. Dalgado, “Chifu” 1:272-273.
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