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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 172 A esta chapa do Chifú de Cantão com o parecer do embaixador, como nas mais ocasiões respondeu o Senado na maneira seguinte: “o embaixador não está doente; quer ir para Pequim. Logo que o Imperador lhe der licença vem a dar os parabéns ao mesmo Imperador da sua exaltação ao trono da parte de Sua Majestade portuguesa; diz que traz carta e um mimo, que consta de trinta caixões; que não teve ordem de El-Rei seu amo para dar a lista do mimo, e que por essa razão o não fazia: porém se for vontade do Imperador, que ele faça lista, não tem dúvida alguma a fazê-la; diz o padre António de Magalhães que ele está já melhorado, e que quer ir no fim deste mês para cima com os dois matemáticos para tratar de ir para Pequim; e como em Macao não tem embarcação o mandarim lhe mande uma, e um mandarim para o acompanhar, e fica esperando”. Aos 18 do dito mês chegou acaso a Macao o governador das armas da vila de Anção, que andava vigiando os mares com duas fragatas de guerra, e logo na tarde do mesmo dia visitou ao embaixador, que o recebeu com muito agrado e cortesia sem faltar ao costume sínico, de que a este tempo, e para o mesmo acto o tinham informado os Reverendíssimos António de Magalhães e Caetano Lopes, vice-reitor do Colégio da Companhia, que nesta ocasião lhe serviu de intérprete. Lembrando-se uns e outros de certo desgosto, que ia tendo o Patriarca Mezabarba legado pontifício no ano de 1720, porque em Macao debaixo do docel de que o china não usa, recebeu uns mandarins que o buscaram, dando-lhe assentos muito inferiores, sem atender ao costume da China, que pedia lhe desse outro, ou melhor tratamento, e mais vindo, como vinham a visitá-lo e a fazer-lhe algumas perguntas da parte dos ministros superiores de Cantão. Para o recebimento deste governador das armas da vila de Anção tinha o embaixador mandado pôr na sua segunda sala quatro cadeiras em duas fileiras, duas de fronte das outras, segundo o costume daquele país, e nas mesmas depois de o vir esperar fora da primeira sala aonde estava o docel, se assentaram todos, tendo o mandarim o primeiro e principal lugar, que conforme ao seu costume era o que ficava ao lado direito quando se entrava, e o último e segundo o costume lhe assistiam ao mandarim e também ao embaixador os seus criados, que lhe costumavam assistir. Estando nesta forma se saudaram, e falaram em algumas coisas que lhe pareceu, havendo em primeiro lugar o embaixador perguntado ao mandarim pela saúde do Imperador, e o mesmo mandarim também pela saúde de Sua Majestade de Portugal, e a tudo se juntou a cerimónia do chá que é indispensável nas visitas na China, e se despediu o mandarim tornando-o o embaixador a acompanhar até o fim da sala livre, e os dois padres também até à porta da rua aonde esperaram que ele se metesse na cadeira, ou andor, em que tinha vindo e se despedisse. Constava o acompanhamento e estado deste mandarim de vários chinas, e insígnias, que se ordenavam na maneira seguinte: iam em primeiro lugar dois chinas gritando em altas vozes, como quem advertia, que ia o mandarim, e lhe fizessem caminho; depois se seguiam dois chinas cada um com uma batica, ou bacia de cobre tocando de tempos em tempos; logo se seguiam outros dois chinas cada um com seu azzorrague na mão; seguiam-se logo outros dois cada um com uma cadeia de ferro; atrás iam outros dois chinas, cada um com um comprido pau de

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