Transcrição em Português 175 suposto que sem fruto por lhe faltar o vice-rei as seguranças que lhe prometia, e se resolveu nestes termos o mesmo embaixador a cometer o mesmo negócio ao secretário da embaixada, que para concluí-lo foi de Macao a Cantão a tratar com os mandarins o modo e forma do cerimonial com o que haviam de receber, e conduzir à Corte, para cujo efeito se expediu pelos mandarins de Macao uma chapa, ou aviso, e com ele juntamente dois soldados chinas, que o acompanharam, e foram dar parte ao vice-rei de quem ia e a que negócios (que tudo isto é necessário se declare para se entrar na China aonde nenhum estrangeiro entra sem permissão dos mandarins). Logo que o secretário chegou a Cantão, que foi no dia 19 de agosto, o buscaram dois chinas, que pelo modo, gravidade e acompanhamento mostravam serem pessoas de satisfação, e apenas o avistaram lhe perguntaram pela saúde, e disseram que da parte do vice-rei vinham ver umas coisas da Europa, que o mesmo secretário levava para oferecer, e se havia declarado já naquela chapa dos mandarins de Macao ao vice-rei. Vistas as ditas coisas que o secretário sem alguma repugnância lhe mostrou, se despediram os ditos chinas, e passado pouco tempo, tornaram, dizendo, já então que iam em primeiro lugar da parte do vice-rei perguntar pela saúde do secretário, e depois a fazer-lhe as perguntas seguintes. A primeira foi, a que negócio tinha ido o secretário a Cantão? A segunda, de que constava o mimo, que o embaixador de Portugal levava para o seu Imperador? Terceira, quando havia de ir o mesmo mimo para Cantão? Quarta e última: quando o mesmo secretário queria falar ao vice-rei? A todas estas perguntas respondeu o mesmo secretário pela maneira seguinte: enquanto à primeira respondeu, que tinha ido a Cantão em primeiro lugar perguntar ao Tagin ou Ministro da Comissão do Imperador pela saúde deste, e em segundo lugar ia visitar ao vice-rei com informação, e faculdade para lhe responder às perguntas que lhe fizesse, e para juntamente tratar do cerimonial, com que o embaixador havia de ser recebido naquele Império e conduzido à Corte de Pequim. Enquanto à segunda pergunta, respondeu, que quando se avistasse com o vice-rei lhe poderia dar uma lista das coisas de que o mimo constava. Enquanto à terceira responde-se [sic]29, que o mimo iria para Cantão quando fosse o embaixador, que era o ponto principal, que primeiro se devia tratar e compor. E enquanto à quarta e última responde-se, que passado o dia seguinte, em que esperava falar ao Tagin, e perguntar-lhe pela saúde do seu Imperador, estava pronto para qualquer dia e hora, que o vice-rei lhe determinasse, e que esta determinação ficava esperando do mesmo vice-rei. Apenas os dois chinas se despediram com as respostas do secretário chegou também o Reverendo Padre José Pereira, que lhas aprovou, menos a que respeitava a perguntar pela saúde do Imperador ao Tagin; porque era esta acção tão própria do embaixador, que a não podia cometer ao mesmo secretário, segundo os estilos da China; mas também lhe disse, que [a] sua resposta nesta parte e a comissão que levava do embaixador se desculpava com a falta da 29 Respondeu-se.
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