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Transcrição em Português 177 ao embaixador de Macao para Cantão, barcas, soldados, e mandarim, tudo da vila de Anção. Enquanto à segunda, que o embaixador teria aposentadoria em Cantão para o que já tinha casas certas. Enquanto à terceira, que o embaixador visitaria em primeiro lugar ao Fuyuen, que era o vice-rei; e em segundo lugar ao Ciam Kium, que é o generalíssimo das armas tártaras, e depois aos mais mandarins, cada um por sua ordem. Enquanto à quarta, que o embaixador partiria de Cantão para a Corte o mais tardar em dez dias (e logo advertiu que neste tempo faria o embaixador os gastos por sua conta, porque não sabiam [o] de que gostaria). Enquanto à quinta respondeu, que seria conduzido para a Corte com barcas, soldados, e mandarim, que não individuou. Enquanto à sexta e última, respondeu, que o embaixador poderia levar quarenta pessoas na sua comitiva, não sendo soldados porque não o consentia o vice-rei. E replicando o secretário, que os soldados eram de Macao, conhecidamente pacíficos, e o embaixador os queria levar para a guarda do mimo que levava, e também da sua pessoa, respondeu, que era escusado falar mais nesta matéria que já estava decidida pelo vice-rei, e que na China haviam soldados, que haviam mandar para o acompanharem; e nesta ocasião não falou o secretário no ponto principal, e letras do CimKum que denotam tributo porque o Reverendo Padre José Pereira tinha segurado, que o vice-rei o não havia de tratar de portador de tributo, que é o que as ditas palavras significam ao embaixador, mas sim de verdadeiro embaixador que ia ao Kim ho, isto é, a dar os parabéns ao Imperador da parte de El-Rei de Portugal, em quem o mesmo vice-rei reconhecia a diferença que vai de Portugal ao reinos de Sião Tum Kim, e outros tributários da China30. Por conclusão desta conferência perguntou o mesmo Chifú ao secretário quando o embaixador havia de ir para Cantão para se lhe mandarem as barcas a Macao a quem o conduzisse, e o secretário lhe respondeu, que não levava poder para determinar o dia certo; que ele daria logo conta ao embaixador do que ele tinha respondido, e chegada que fosse a resposta de Macao lhe participaria o que o embaixador determinava, e nisto se concordou entre o Chifú e o secretário. Avisou o secretário ao embaixador com a notícia do que tinha obrado pedindo-lhe a sua determinação para comunicá- la ao Chifú, como lhe tinha prometido, e se ficou no entanto esperando em Cantão, sem entender que houvesse novidade, ou alteração dos mandarins, enquanto a resposta do embaixador lhe não chegava; mas observou o contrário, porque logo no dia seguinte ao da conferência lhe mandou o Chifú perguntar outra vez quando o embaixador havia de ir para Cantão, e com esta mesma pergunta repetiu por mais duas vezes, e com instância em nome do vice-rei, e o secretário dando sempre a resposta, que já tinha dado ao Chifú na conferência, de que não tinha poder para determinar o dia, que se lhe procurava da vinda do embaixador, a quem tinha com efeito avisado do que se lhe respondeu para ele se poder determinar, e que a resposta de Macao ainda a não tinha, nem podia ter chegado. Nesta inconstância do Chifú e vice-rei de Cantão acresceu mais outra disparidade, e foi que 30 Sobre a questão do uso do termo Cim Kum e Kim Ho nas embaixadas tributárias vide António de Vasconcelos de Saldanha, “Embassies and Tributes. Three Centuries of Portuguese Diplomatic Missions in China” in Ming Qin Yanjiu (Brill, Feb. 2000), vol. 9, no. 1: 43-87.

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