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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 178 estando o Reverendo António de Magalhães ainda em Macao, mas para partir para Cantão lhe chegou com as barcas uma chapa, em que se lhe pedia levasse para Cantão consigo a carta e o mimo sem lhe declarar que mimo e carta se lhe pedia levasse; e ao depois quando já ia no caminho para Cantão lhe chegou outra, que declarava, que a carta, e mimo que se lhe pedia era a que o embaixador levava para o seu Imperador, como já em Macao se quis entender, à vista da primeira chapa (como que o embaixador houvesse de largar da sua mão uma carta e um mimo que El-Rei Nosso Senhor lhe mandou entregar para ele pessoalmente a levar e entregar ao Imperador da China!). À vista de todas estas coisas não pode o secretário, que ainda se achava em Cantão, deixar de presumir, que o embaixador não estava ainda livre das letras do Cim Kum, e título de portador de tributo de que o Reverendo José Pereira o fazia estar livre, fiando-lhe na promessa do vice-rei, como já fica dito, e como este ponto era o mais principal por conduzir, e dizer respeito à honra e bom tratamento que todos desejávamos ao embaixador naquele Império e entrou o mesmo secretário por vezes a lembrá-lo ao mesmo padre, pedindo-lhe com instância, que ponderasse as coisas, e visse se o vice-rei o enganaria ou não, e suposto que o mesmo padre sempre respondeu que neste particular não podia haver receio, contudo não deixava de pôr todos os meios para averiguar o que neste ponto havia, e talvez que com algum dispêndio, que seria necessário para conquistar os oficiais do tribunal, por cuja via só se podia saber, como se soube decerto, que o vice-rei o tinha enganado; pois se soube que o mesmo vice-rei com o Çum tó [總督] seu superior (é o que governa as duas províncias de Cantão, e Kuamsi) no memorial que meteram ao Imperador, no qual tratavam ao embaixador por portador de tributo da mesma sorte que no ano antecedente tinham tratado a dois religiosos Carmelitas, que o Papa tinha mandado com carta e mimo para o mesmo Imperador da China, e era o memorial, o que se segue: Memorial Yang vice-rei de Cantão ofereceu libelo, ou memorial Puen acerca dos estrangeiros que vieram a pagar tributo, e dar graças, etc. Sendo isto assim: eu súbdito advirto, que o Rei do Reino Ocidental apartado de nós algumas dez mil léguas, nunca até o presente se pôs na ordem e catálogo dos que ordinariamente pagam tributo; agora, podém, manda um Embaixador Me te ló com carta, e coisas da sua terra, a perguntar reverentemente pela saúde de Sua Majestade Imperial; também manda Chang ngan to (o Reverendo Padre António de Magalhães) para que batendo cabeça, dê as graças pelo grande mimo, que no ano de 60 de Kam ky o Imperador Pai de Sua Majestade Imperial graciosamente mandou. Se alguém olhando para o Céu considerar, que a clemência da dinastia celeste, e Majestade, se estende ainda aos lugares mais remotos, verá que por isso todos os povos distantes de todo o coração vêm a converter-se, isto é, sujeitar-se-nos. Eu súbdito, tanto que ouvi que o Embaixador Me te ló portador de tributo tinha chegado a Macau, logo mandei ao tesoureiro da alfândega desta província, que em meu nome

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