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Transcrição em Português 179 mandasse perguntar acerca deste negócio, e trazer aquelas coisas, e carta, fazendo também que o Reverendo Padre Magalhães, e o embaixador de Portugal se pusessem quanto mais cedo a caminho para a Corte. Por repetidas vezes lhe repeti este mesmo aviso. Averiguado o negócio pelo tesoureiro da alfândega me referiu, que o Reverendo António de Magalhães estava doente, e o embaixador com uma molestia nos pés, e que por estas razões não podia logo vir para esta metrópole, e daqui para a Corte. Agora, porém, que o Reverendo Padre Magalhães se acha convalescido, me parece acertado que vá adiante com os dois padres matemáticos, Domingos Pinheiro, e Paulo de Mesquita, pelo que poderá pôr-se a caminho para a Corte neste ano no dia 13 da lua 8. No que respeita ao embaixador, como já se acha um pouco melhorado dos pés, parece que poderá partir para a Corte, e levar as coisas, e carta que traz, neste mesmo ano até os primeiros dez dias da nona lua. À vista disto que se me referiu, julguei que se devia este negócio tratar, como se tratou no ano passado de 1725 o dos dois padres Carmelitas mandados do Papa a pagar tributo: portanto neste memorial faço deles primeiro menção. Quando partir o Embaixador Me te ló mandado a pagar tributo levará consigo carta, e as coisas que traz, e então se lhe dará Kam ho (é uma patente ou passaporte) para por todo o caminho ter o que lhe for necessário; e também o acompanhará um mandarim e o governará até à Corte, para que assim possa pagar o tributo, e dar as graças. Desta maneira se satisfaz aos desejos dos estrangeiros, que desejam vir, e chegar à suma perfeição da conversão, e se lhe declara juntamente que a Santa Dinastia assim abraça a todo o mundo, que nenhuma parte dele reputa por estranha. O padre António de Magalhães com os dois matemáticos partirá no dia 13 da lua 8, nós lhe demos 400 Srz de viático31, e um mandarim que o acompanhe. Assim o deliberei com o Cum tó, e ambos oferecemos o presente memorial, pedindo humildemente que Vossa Majestade mande ao Supremo Tribunal conhecer destas coisas. Nós nos não atrevemos a determinar coisa alguma nesta matéria. Este nosso libelo fizemos com todo o cuidado e diligência, agora ficamos esperando o que Vossa Majestade determina. Visto por nós este memorial se resolveu o Reverendo António de Magalhães, que já neste tempo estava em Cantão, a ir falar com o Chifú, e governador da cidade, e dizer-lhe que em Cantão corria um rumor que o vice-rei no Puen, ou memorial para o Imperador tratava ao embaixador, por portador de tributo, e que nestes termos se não poderia determinar a entrar na China, sem que se lhe segurasse o tratamento de embaixador; e que o não haviam reputar por portador de tributo; e suposto que o mesmo Chifú olhando para o Céu, como quem jurava por ele lhe respondeu que tal coisa não havia, e que só pessoas baixas poderiam tal dizer, porque o vice-rei não era capaz de obrar tal coisa, nem ele Chifú teria cara para aparecer, se em algum tempo se obrasse o contrário; contudo nós não podemos persuadir a dar-lhe crédito, e isto por duas razões: a primeira porque não havia o Chifú manifestar o engano do vice-rei, que se achava oculto; a segunda por que contra o mesmo vice-rei tínhamos várias presunções de que nos tinha enganado: uma por haver ocultamente remetido à Corte o memorial, havendo prometido ao Reverendo Padre José Pereira que lho havia mostrar antes de o remeter; e outra, 31 Do latim viaticum. Dinheiro ou víveres para uma jornada ou uma viagem.

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