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Transcrição em Português 181 que o Moscovita não era mais amigo do Imperador que El-Rei de Portugal; que o embaixador de Portugal solicitava por todos os meios a honra do Imperador, e que mais honroso lhe era, que ele o fosse felicitar, como embaixador de um rei soberano e independente com uma grande comitiva, do que ser tratado, como um dos embaixadores, que ordinariamente iam a pagar tributo. Logo que o Senado mandou chapa com o referido aviso ao vice-rei de Cantão, e antes de ter dela resposta, chegaram a Macao duas chapas, uma do mandarim da vila de Anção, em que lhe dizia, que o Chifú de Cantão o tinha avisado, que da parte do embaixador tributário se lhe havia dito que poderia partir na nona lua, e lhe ordenava soubesse o dia, e lhe mandasse as barcas, e que nestes termos pedia ao procurador do Senado lhe dissesse, quando o embaixador havia de partir. A outra chapa era do mesmo Chifú para o Senado, e lhe procurava quando o embaixador havia de partir para Cantão, segurando-lhe que havia ser bem tratado, com a advertência de que era precisa toda a brevidade, porque não houvesse na demora algum perigo. A estas duas chapas, ainda antes da resposta da que o Senado escreveu ao vice-rei de Cantão, respondeu o mesmo Senado com o parecer do embaixador, dizendo, que o embaixador até então não repugnava a entrar na China, antes andara sempre na diligência de se poder resolver a determinar dia; mas que agora se via precisado antes de resolver-se a recorrer imediatamente ao Imperador, para que lhe declarasse com que título havia de entrar e ser recebido no seu Império aonde o mesmo Imperador não havia de permitir que ele tivesse o título de portador de tributo, que se lhe estava dando naquela chapa do mandarim da vila de Anção, e que nem El-Rei de Portugal havia permitir o contrário, sendo certo que não ia a levar tributo algum, mas sim algumas coisas graciosamente em razão da recíproca amizade que sua Majestade Imperial não repugnaria se continuasse entre as duas monarquias. Dada nesta forma a resposta pelo Senado, e remetida ao mandarim, a quem tocava, chegou a Macao um intérprete, que tinha levado a carta do Senado para o vice-rei, dizendo, a tinha entregado ao mesmo vice-rei, e que este a havia remetido ao Chifú; que indo falar ao Chifú lhe mostrara o mesmo a chapa, que tinha levado ao vice-rei, ele dissera que o Senado havia feito mal em mandá-la e falar nela nos moscovitas ao vice-rei, que disso se tinha escandalizado; que o embaixador não havia de ser tratado como portador de tributo mas sim como embaixador, e que até então o não tinham tratado se não como tal; que pedindo-lhe a resposta do Senado lhe respondera o Chifú que não era necessária. Logo no mesmo tempo chegou também a Macao carta do Reverendo Padre José Pereira, em que avisava, que por não poder buscar ao Chifú, de quem para o fazer havia tido recado, o buscou o mesmo Chifú a ele, e lhe disse, que o Senado de Macao havia feito mal em mandar aquela chapa ao vice-rei, e lhe segurou o bom tratamento do embaixador. Bem mostrava o Chifú no que disse ao intérprete do Senado de Macao, e depois ao padre José Pereira a quem buscou, que receava houvesse demora na ida do embaixador para Cantão,

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