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Transcrição em Português 185 antecipadamente no caso que se lhe cometesse a fazê-la) e se não atrevia a recebê-la por ir em letra europeia, e nem a do Imperador, porque já o tinha avisado da sua ida para a Corte, quando partiu o Muito Reverendo António de Magalhães. À vista desta resposta dos dois mandarins, os devia logo o secretário dar por ouvidos, visto que não traziam coisa de novo que concluísse o negócio, mas tendo ouvido que eles traziam certas chapas ou cartazes para porem nos lugares públicos de Macao, antes de despedi-los lhes perguntou, que chapas eram umas que eles traziam para se publicarem? A isto lhe responderam que já as tinham posto em alguns lugares públicos, que o que continham era uma declaração ao povo de como o embaixador só ia a dar os parabéns ao seu Imperador, e não a pagar tributo. Aqui lhe disse o secretário, que como assim eram se examinariam as mesmas chapas, e do que à vista delas o embaixador resolvesse se lhe daria resposta; e com isto se despediram os mesmos mandarins, e o secretário entrou na diligência de fazer verter as chapas, que continham o seguinte: “eu quarta cadeira (é o mesmo que quarto assessor) da vila de Anção venho por ordem dos mandarins superiores a conduzir o embaixador da Europa. O embaixador da Europa não é tributal, sim vem a dar os parabéns ao nosso Imperador: ordeno aos cabeças das ruas (cada rua da China tem um cabeça que dá conta ao mandarim do que nela sucede) que achando, que alguém fala, que o embaixador é tributal o prendam, e amarrem para se remeter ao Chifú a Cantão e ser castigado; isto faço para que se não queixem de mim”. À vista destas chapas, que se puseram nos lugares públicos de Macao se não deu o embaixador ainda por satisfeito por serem passadas em nome de um mandarim inferior, qual era a quarta cadeira da vila de Anção, e assim assentou consigo não se resolver a entrar na China sem ter ordem do Imperador que lhe conviesse, ou do mesmo vice-rei em chapa sua declarando-lhe que não ia a pagar tributo, e segurando-lhe que em todo o Império não havia ser tratado, como portador dele; mas ao depois a beneplácito do mesmo embaixador se avistou o secretário com os ditos mandarins, e pactuou, que ele se resolveria, se eles trouxessem chapa do mesmo vice-rei em que declarasse não ia a pagar tributo, e se juntamente se segurasse, que em todo o Império havia ser tratado como embaixador, sem se falar por modo algum em tributo, se é que o vice-rei o podia segurar, porque não podendo, então deveria remeter-se a carta ao Imperador, e no entanto que chegava a resposta se demoraria em Macao. Os mandarins entendendo que o vice-rei comporia o negócio na forma que o secretário lho propunha, aceitaram a proposta, a qual o mesmo secretário lhe fez escrever, ficando-se com a cópia por evitar alguma dúvida, e se partiram para Cantão. Aos 22 de outubro festejou o embaixador os anos de Sua Majestade e houve banquete, a que assistiram os dois bispos de Macao e de Pequim, o governador e ouvidor, prelados das religiões com alguns religiosos mais; e aos 25 chegou carta de Pequim aos padres com a notícia de que o Imperador mostrava bom agrado e contentamento com a que se lhe deu, de que o embaixador de Portugal estava em Macao para passar à Corte. Aos 26 se puseram nos lugares públicos de Macao novas chapas, em que o governador da vila de Anção por ordem, que dizia ter dos mandarins superiores de

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