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Transcrição em Português 187 vice-reitor do Colégio de Macao, que ao depois foi por seu intérprete à Corte; e este mesmo padre com a versão que lhe remeteu o avisou, também de que à vista dela, já não tinha boa escusa para não entrar na China. O embaixador lhe respondeu, e avisou, que propusesse o negócio a todos os padres do Colégio, e do que julgassem lhe desse a resposta. Logo no dia seguinte avisou o mesmo padre de que tinha proposto aos mais do Colégio o negócio e que os mais deles resolviam que devia entrar na China, e não esperar mais satisfações supostas as circunstâncias presentes, e consequências más que podiam seguir-se do contrário. Com este parecer dos padres o tomou o embaixador de entrar na China sem esperar resposta da carta que tinha escrito ao Imperador, e se ajustou a partida para o dia 18 de novembro de que se fez aviso a Cantão por aquele mandarim, que de lá tinha vindo, e se achava ainda em Macao. No dia 14 do mesmo mês chegaram a Macao cartas dos padres de Pequim com a notícia de que as palavras Cim Kum se não entendiam lá na Corte, como cá as queriam entender, e que o embaixador neste ponto não tinha que recear; chegou também uma cópia da resposta, que deu o Imperador ao memorial, que lhe mandou o vice-rei de Cantão, na qual o mesmo Imperador não falava em coisa de tributo falando no embaixador, e juntamente recomendava muito ao vice-rei que o conduzisse de sorte que o não molestassem no caminho, e nem tão pouco o apressassem contra sua vontade. E no dia 16 chegaram a Macao as barcas para a condução do embaixador para quem especialmente veio uma embarcação de guerra. Nesta forma se compuseram todas as dúvidas, que nos tinham demorado em Macao. No dia 18 de novembro em que o embaixador saiu com efeito de Macao, se achava defronte das suas casas uma ponte, ou passadiço de madeira, e já melhor que o outro, que se lhe fez na ocasião do seu desembarque, e se achavam também formadas as companhias de soldados que havia na cidade; achavam-se também o governador, ouvidor, Senado, e os prelados das religiões com toda a nobreza de Macao, e todos se despediram dele, e o acompanharam até se embarcar, seguindo-o ainda depois por algum tempo muitos deles em várias e vistosas escuchas. Ao mesmo tempo que se ia navegando iam tocando os clarins, e timbales do embaixador, e também os instrumentos sínicos do mandarim que o acompanhava, e por sua ordem o iam salvando todas as fortalezas, e barcos que se achavam no porto de Macao, com tanto estrondo que mal se percebiam os vários instrumentos e músicas, que também o acompanhavam. No dia 20 de manhã em que chegámos à vila de Anção visitaram os mandarins do político e armas ao embaixador, e lhe mandaram também algumas coisas comestíveis, que o embaixador recebeu e agradeceu no Tiezu, ou papel de visita que lhe mandou. Feito isto se passou o embaixador para uma barca de mandarim de melhores cómodos que a em que saiu de Macao, e fomos continuando a viagem até Cantão onde chegámos no dia 23 pela tarde, tendo encontrado vários padres de propaganda franceses, espanhóis, e portugueses, que o vieram esperar ao caminho. Logo que o embaixador chegou ao porto de Cantão o visitou em pessoa o governador do

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