Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 188 povo, e os mais mandarins o visitaram com Tiezu ou papéis de visita; o vice-rei que também o mandou visitar deste modo, lhe mandou juntamente perguntar, se necessitava de alguma coisa para o desembarque para se lhe pôr pronta. No dia 24 de manhã, em que saímos para terra se desembarcou também o mimo de Sua Majestade para o Imperador, e se conduziu para umas casas, que se achavam prontas pela maneira seguinte: primeiramente iam alguns soldados chinas abrindo caminho, que se achava tomado com a multidão do povo, que tinha concorrido a ver. Depois se seguia um terno de instrumentos sínicos, que são como charamelas35 ; atrás se seguiam os caixões do mimo às costas de chinas, acompanhando-o outros soldados mais, que iam aos lados, a que se seguiam os clarins e timbales do embaixador, e depois o seu estribeiro a cavalo atrás dele; iam dez lacaios, que acompanhavam o embaixador, e atrás deles ia o mesmo embaixador em uma cadeira (em que entrou ao depois na Corte carregada por oito timores, seus escravos). Em último lugar se seguia o secretário da embaixada a cavalo com um estandarte, em que iam gravadas as armas de El-Rei Nosso Senhor, e atrás dele iam todos os gentis-homens do embaixador também a cavalo. Logo que o embaixador entrou nas casas que lhe deram por aposentadoria o visitou em pessoa o Chifú, e depois dele chegou também o mandarim, que o tinha ido conduzir de Macao para Cantão; por insinuação do mesmo mandarim saiu logo o embaixador a visitar em primeiro lugar ao Puchim-çu ou tesoureiro da fazenda, e ao Ngam chaçu ou ministro do crime, que esperavam na casa do primeiro, e aqui achou o embaixador um sumo agrado e bom tratamento que sempre teve com todos os mandarins a quem visitou. Daqui se passou a visitar o vice-rei que também o recebeu com sumo agrado e excessivas demonstrações de honra, pois o recebeu, como receberia o maior mandarim do Império, tendo pelos dilatados pátios por boa ordem inumeráveis soldados, e todas as insígnias do seu estado com os oficiais da sua casa, e dignidade, todos vestidos de cerimónia, e ao entrar e sair o embaixador o mandou salvar com três tiros, que é o costume da China. Depois visitou também o generalíssimo das armas tártaras, e aos outros mais mandarins cada um por sua ordem. Todos os mandarins a quem o embaixador visitou, o visitaram também depois (que é o costume da China serem os que vão de fora os que primeiro visitam) e uns e outros mandaram ao embaixador mimos de coisas comestíveis, que é o de que ordinariamente os mimos da China constam. O embaixador lhe correspondeu com algumas coisas curiosas que levava de Portugal. Ao mesmo embaixador logo que entrámos em Cantão puseram os mandarins soldados de guarda à sua porta, e também puseram um estado de mandarim, que o acompanhava quando saía fora; e em todo o tempo, que o embaixador esteve em Cantão, o visitaram por vezes assim os mandarins como todos os missionários portugueses e estrangeiros, que ali se achavam; e para que todos os europeus seculares, que também ali se achavam o pudessem visitar, se lhe franquearam as portas da cidade tártara em que assistíamos, aonde ninguém de antes podia entrar sem especial licença do generalíssimo das armas. 35 Instrumento musical de sopro.
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