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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 190 em que ia o secretário, e outras em que iam os gentis-homens, e mais comitiva, que eram 64 pessoas, entrando 16 chinas, a quem o embaixador pagava para o serviço, e melhor expedição da viagem, que se entendeu seria por terra; além das ditas barcas ia uma com seis soldados para guarda do embaixador, e outra em que ia um Paçum que é como capitão de infantaria que acompanhou até à Corte, e faziam todas as barcas o número de 14, fora outras barcas, em que iam alguns padres portugueses e estrangeiros, os quais por alguns dias também nos acompanharam. No Kam ho, ou passaporte que levava o mandarim condutor, se declarava que o embaixador ia a Kim ho, id est a dar parabéns; e às coisas do mimo de Sua Majestade se dava o nome de Sum que quer dizer mimo, e oferta graciosa. Também se declarava nele o número das pessoas que acompanhavam, a 26 [das quais] tão somente se mandava assistir com o sustento imperial, que era um tostão por dia para cada uma de dez pessoas, em que entrava o embaixador e dois padres da Companhia, o secretário da embaixada, e seis gentis-homens; e para cada uma das mais, que iam para vinte e seis, a que tão somente se mandava assistir, se mandava dar a cinquenta réis por dia, ou para melhor dizer de posta em posta, ou de vila em vila, em que muitas vezes se gastavam dois e três dias, segundo corriam os ventos. Para a condução do mimo, que também ia em barca separada, e com uma bandeira no mastro com as letras ou palavras Xam yum, que quer dizer “coisas do uso imperial”; à mais comitiva do embaixador no caso que fossemos por terra se mandavam dar trinta cavalos e duzentos e catorze chinas, ficando por conta do embaixador o fazer os mais gastos, para os quais lhe deram os mandarins de Cantão (à vista da fazenda real) um conto de réis como viático, que também teve o Patriarca Mezabarba, e o Muito Reverendo António de Magalhães, quando partiu para a Corte. Quando o embaixador passava junto de alguma cidade ou vila, o vinha antes de chegar a receber um mandarim, e depois quando chegávamos o visitavam na barca, e mandavam seus mimos de coisas de comer, que o embaixador recebia, e a quem os trazia dava sempre prémio de prata, que às vezes era mais do que valiam os mimos; também ao despedirmo-nos saíam os mandarins das vilas e cidades a oferecerem-se-lhe para o acompanharem. Da mesma sorte quando passávamos por alguma vigia saíam os soldados a receber o embaixador com salvas de mosquetes e baticas, que são como bacias de cobre, em que tocam, e para tudo se punham formados, e um deles com uma bandeira na mão. Também quando iamos chegando a alguma vila ou cidade, das muitas que encontrámos no caminho, se largavam as bandeiras, tocavam os clarins e timbales juntamente, que o embaixador levava na sua barca, e também os instrumentos sínicos, que também o acompanharam. Demais de tudo isto, quando parávamos para descansarmos à noite se tomava o quarto a som de batica e charamelas, e com os três tiros do costume, e se punha sentinela à barca do embaixador, aonde estava continuamente até que partiamos, e neste tempo se repetiam os mesmos tiros, e tocavam os clarins, timbales e instrumentos sínicos. Com esta ordem caminhámos sempre até chegarmos à Corte; e logo pouco depois que

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