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Transcrição em Português 191 saímos de Cantão, nos chegou a notícia, de que o embaixador de Moscóvia tinha entrado em Pequim no primeiro de novembro, e que a sua entrada tinha sido na maneira seguinte: iam em primeiro lugar dois soldados tártaros de cavalo com azzurragues na mão abrindo caminho, que o povo tomava; logo se seguiam vinte e cinco soldados moscovitas também de cavalo, e bem armados; depois ia o embaixador em uma calece a dois cavalos, dourada por fora, e por dentro forrada de damasco carmesim, e aos lados da mesma calece iam todos os seus criados de pé; atrás iam quatro coches do seu estado bem preparados a quatro cavalos cada um, e finalmente se seguiam várias carroças que lhe conduziam a bagagem; que toda a comitiva constava de 120 pessoas, e a sua aposentadoria era a mesma que teve o outro embaixador Moscovita seu antecessor, mas com muitos mais quartos que se fabricaram de novo para a sua acomodação; que a guarda que se lhe pôs era de 46 soldados chinas, e que o Imperador por repetidas vezes lhe mandava iguarias da sua mesa, e mandarins a perguntar-lhe pela saúde, mas que ainda o não tinha admitido à sua presença. Deste mesmo embaixador tinham avisado os padres da Corte, que logo que chegou aos confins das terras do Imperador se lhe queixou do mau tratamento, que os seus mandarins lhe davam em carta, na qual ao mesmo tempo engenhosamente lhe insinuava o tratamento que naquele Império deviam ter os embaixadores europeus, mas quando estivemos na Corte soubemos, que na porta da sua aposentadoria teve este embaixador as letras de Cim Kum sem repugnância e mais não tinha ido a pagar tributo algum, e que no tempo que esteve na mesma Corte, teve muita pouca liberdade, porque até havia proibição de se comunicar com os europeus, inferindo-se daqui que os soldados da sua guarda, e os que o acompanhavam, e aos de sua comitiva, quando saíam fora se lhe não davam tanto por estado, e tratamento, como para lhe restringirem a sua liberdade. Então soubemos também, que este embaixador não tinha concluído o seu principal negócio a que foi mandado, que era a demarcação dos confins entre Moscóvia e as terras do Imperador, mas que com ele tinham ido mandarins para a mesma demarcação se fazer. No dia 20 de dezembro passámos junto de um miau, ou templo dos pagodes, de que se não devisava mais que uma pequena porta, cuja entrada confinava com o rio, porque o mais era um grande rochedo, em cujo vão estava metido o mesmo templo, e nele estavam vivendo alguns bonzos que se sustentavam com esmolas, que andavam pedindo pelo rio aos passageiros (desta maneira é que em muitas partes da China vivem, e fazem as suas penitências muitos bonzos, ou ministros do demónio). No dia 22 vimos andar no rio certos chinas, os quais ao depois encontrámos em outras partes pescando com uns pássaros semelhantes a corvos, era o ensino que lhes tinham dado tal, que andavam soltos sobre as barcas sem fugirem, mas tanto que os donos lhe tocavam com uma vara se lançavam ao rio, e apenas sentiam o peixe, se mergulhavam, e muito poucas vezes vimos que mergulhassem sem trazem [sic]37 peixe, não lhe servindo de impedimento, nem a corrente das águas, que em partes também corriam turvas, 37 Trazerem.

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