Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 192 e nem a velocidade do mesmo peixe. Assim que estes pássaros tomavam, e subiam acima das águas, buscavam logo cada um a barca de seu dono, aonde sem equivocação subiam e largavam o peixe, tudo com ajuda do mesmo dono, que para subirem lhe estendia uma vara com uma pequena rede, em que se punham, e para largarem o peixe lhe batiam na cabeça. Nesta forma andavam estes chinas fazendo a sua pescaria, de maneira que a eles lhe servia, e a nós os que víamos de sumo divertimento, pela novidade que víamos, e tínhamos uns antes lido, e outros ouvido, e talvez que muitos a não acreditassem enquanto a não viram. No dia 23 passámos junto a Xaucheu, que é uma das cidades da segunda ordem; visitaram ao embaixador, e lhe mandaram mimos os mandarins do político e armas, e o embaixador lhe correspondeu com Tiezu, ou papéis de visita, e algumas coisas da Europa. Quando o embaixador chegou a esta cidade se achavam para o seu recebimento formadas duas companhias na praia, e tanto na chegada, como na saída, em que os mandarins se ofereceram para o acompanharem, houve as salvas costumadas, e se tocaram os clarins, e timbales, e os instrumentos sínicos. No dia 25 logo de manhã fomos todos dar ao embaixador na sua barca as boas Festas do Natal, e isto mesmo fizeram os chinas cristãos que o acompanhavam, e até os barqueiros sendo gentios foram neste dia bater-lhe cabeça, tanto por saberem que era dia festivo para os cristãos, como porque neste dia lhe mandou o embaixador coisas de comer e beber por todas as barcas (que é costume dos chinas darem sempre as graças, e bater cabeça, por qualquer favor que se lhes faz). No dia 26 fomos dormir junto da vila Xi Hin Hien, aonde nos dilatámos nos dois dias seguintes, e neste tempo, que era já bem rigoroso, pelo muito frio, mandou o mandarim mimo e Tiezu de visita ao embaixador, a quem não buscou em pessoa pelo rigor do frio, águas e distância lho não permitirem; da mesma sorte mandou pôr-nos prontas várias barcas pequenas para ajuda das em que iamos, que eram grandes, e com a carga podiam mal navegar. No dia 30 fomos continuando, e com bom trabalho dos barqueiros até à cidade Nam huim fu, aonde chegámos no dia seguinte, que foi o último de dezembro. Logo que chegámos a esta cidade, que é a última da província de Cantão, visitaram ao embaixador na barca os mandarins das armas e da política, os quais lhe mandaram também seus mimos, que o embaixador aceitou; e o Çumpim, que é como mestre de campo, quando o visitou lhe levou juntamente chá à moda tártara, que é o que entre eles mais se estima, se bem que só consta de leite e caldo de galinha em lugar de água ordinária, em que os chinas o cozem. No dia seguinte, que foi o primeiro do ano de 1727, logo de manhã saiu o embaixador na sua cadeira a visitar os mesmos mandarins, que o visitaram primeiro, acompanhando-o os seus criados de pé e trombeteiros e timbaleiros, que iam tocando diante, além de um estado de mandarim, que se lhe mandou com soldados para o acompanharem; e neste mesmo dia tivemos já notícia por via de um china da casa do vice-rei de Cantão que vinha da Corte, de que o Imperador mandava dois Tagin, ou condutores, para conduzirem o embaixador dos
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