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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 194 embaixador já em Cantão tinha pedido por eles, e na mesma carta o avisava o Chifú, de que logo que o vice-rei se recolheu a Cantão lhe falou no negócio dos de Macao, e que tudo se tinha feito, como o mesmo embaixador queria, porque os homens de Macao se tinham recolhido sem impedimento algum, e nem o vice-rei por modo algum os queria molestar, e só sim procurava evitar, que se tirassem por alto as fazendas, querendo por este modo segurar os direitos do seu Imperador. O embaixador lhe respondeu, e deu as graças pela lembrança, e favor que havia feito aos de Macao, por quem então, e sempre que teve ocasião pediu aos mandarins. No dia 9 passámos junto da cidade Kam Cheu fu aonde os mandarins visitaram ao embaixador, que os recebeu na barca, e aos mimos, que também lhe mandaram, e nos passámos alguns para outras barcas de melhores cómodos, que aqui se nos deram. Neste mesmo tempo chegou o próprio, que tinha ido de Cantão com carta do embaixador para o Imperador e padres, e na resposta que dava o padre André Pereira da Companhia de Jesús o avisava de que a sua carta para o Imperador se tinha vertido, e sobre os particulares dela tinham os padres Domingos Barreni [sic]41 missionário francês, e António de Magalhães ido falar com o régulo 13 primeiro ministro do Império42, que ficando-se este com a versão os mandara ir à sua presença no dia seguinte, porque queria primeiro falar ao Imperador; e que o que tinha resultado era mandar o mesmo Imperador dois Fagin a Macao para o conduzirem com toda a honra até entrar na Corte. Mais o avisava de que falando-se ao régulo 13 sobre as letras de Cim Kum, respondera que ele não ia a Cim Kum e que havia ser tratado melhor que o Moscovita. Por este mesmo próprio chegou também uma relação do sucesso, que teve o Muito Reverendo António de Magalhães quando chegou à Corte de Pequim e da mesma relação soubemos, que o Imperador logo que chegou o admitiu à sua presença, e tratou com muita honra, recebendo-lhe algumas coisas da Europa que lhe ofereceu, e que chegou a dizerlhe que era homem de merecimentos, porque tinha feito bem o negócio da Legacia a que o Imperador defunto o mandou, e além disto depois de lhe perguntar pela saúde de El-Rei Nosso Senhor lhe perguntou também pela sua, e em prémio mandou vir um seu Mauzu43, ou barrete de zebelina, que na sua presença o mesmo padre Magalhães logo pôs na cabeça; e nem se entenda ser pequeno este favor, que o Imperador lhe fez, pois o é e muito grande na estimação dos chinas qualquer dádiva do seu Imperador sendo bastante para premiar os mores serviços. Aqui e muito melhor na Corte acabaram muitos, e eu principalmente de entender, que o Muito Reverendo António de Magalhães tinha sido verdadeiro embaixador a Portugal, mandado pelo Imperador da China, porque soubemos de certo, que tinha vindo perguntar pela saúde, e a trazer um mimo mandado expressamente pelo mesmo Imperador, que é todo o constitutivo de um legado verdadeiro segundo o costume da China, aonde se 41 O Padre Jesuíta Dominique Parrenin 巴多明. 42 Pelo termo régulos se designavam os príncipes imperiais a que se juntava o no de ordem de nascimento. 43 Do chinês 帽子 máu-tsze. Nome chinês de barrete ou carapuça. Dalgado, “Mauzu” 2:45.

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