Transcrição em Português 201 ocasião duas peças de seda, pelas quais todos de joelhos lhe bateram nove vezes cabeça, quando já ia navegando pelo rio. Deste sítio para diante eram já mais estreitos os rios e canais por onde navegávamos, e porque eram infinitos os barcos, uns de passageiros, e outros que levavam tributos das províncias, ia sempre connosco um mandarim com ordem de que ninguém nos impedisse, e nesta forma é que nos iamos adiantando, e passando em primeiro lugar os diques ou presas, em que as águas se ajuntam para depois se largarem, e com elas andarem as barcas, que de outra sorte não podem navegar. No dia 5 chegámos à cidade Kancheu e logo o governador dela mandou visitar ao embaixador e convidá-lo para um banquete em terra, e porque não aceitou o tornou pessoalmente a convidar ainda que debalde. A este banquete assistiram os dois condutores do embaixador, a quem porque não assistiu mandou o governador oferecer várias mesas de comer à moda china e tártara, com a condição de que seriam para os barqueiros, a quem com efeito o embaixador as mandou repartir. Este mesmo governador, quando convidou e visitou ao embaixador na sua barca lhe disse, que como ia a Cim Kum, o deviam tratar todos bem e com honra; e queixando-se o embaixador de que este governador o tratava de portador de tributo aos condutores, o repreenderam estes quando assistiam ao banquete que o mesmo governador lhes deu, e desde então ficou o mesmo governador entendendo, e todos os mais, que o embaixador não ia levar tributo, mas sim a dar parabéns como diziam as letras que levava em uma bandeira no mastro grande da sua barca. No dia 8 chegámos à cidade Kau Yeu Chen aonde os mandarins visitaram ao embaixador, e ofereceram mimo, que lhes não aceitou, aceitando-o os condutores, a quem igualmente os mandarins assistiam com todo o necessário à custa do Imperador. Nesta cidade se achava o Cum hó, que é um grande mandarim que governa os rios, e os andava naquele tempo visitando; porque como os mais são feitos por indústria, são contínuas as obras que neles se fazem no reparo dos muros, em que o mandarim também cuida. Este mesmo mandarim logo que chegámos, visitou em primeiro lugar aos condutores, a quem posto de joelhos estando os mesmos em pé, perguntou pela saúde do seu Imperador, e depois passou a visitar o embaixador na sua barca, e lhe mandou mimo, que se recebeu. No dia 11 chegámos à cidade de Huay han, aonde se achava o Çum çau que é um mandarim grande que cuida dos barcos que levam o tributo do arroz para a Corte. Este mesmo mandarim visitou e ofereceu mimos ao embaixador e condutores, os quais todos aceitaram, e o mesmo fez o governador da cidade e do povo, que é seu inferior, como entre nós o é um juiz de fora de cabeça de comarca ao corregedor dela. Nesta mesma cidade se conservava ainda uma igreja dos padres da Companhia, e as chaves na mão de um china cristão, que cuidava dela; e nesta mesma igreja na ocasião que vínhamos da Corte administrou o Reverendo Caetano Lopes da Companhia de Jesus os sacramentos da confissão e baptismo a vários chinas, porque há aqui
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