Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 204 como conselheiros de estado do Imperador) que não era necessário por ter o mesmo Imperador já aviso, de que os dois Tagin, ou condutores se tinham encontrado com o embaixador e o iam conduzindo por água, e neste tempo deram os padres ao colau as graças pela aposentadoria, que se havia determinado para a assistência do embaixador na Corte. Também avisava o mesmo Parreni, que o Imperador tinha admitido à sua presença todos os europeus da Corte no dia 5 da primeira lua, e lhes havia dito: “o vosso embaixador partiu de Cantão, os nossos o encontraram no caminho, os mandarins de Cantão fizeram muito mal este negócio”. No mesmo dia em que admitiu o Imperador os padres na sua presença lhe deu também banquete, a que esteve presente, e ao despedirem-se mandou dar a cada um duas peles de zebelina58 e duas bolsas para o cinto, e de mais disto lhe mandou também dar algumas bocetas de laranjas e melões de Hami, que são os melhores entre eles, e lhe vem da Tartária, e sobretudo lhe mandou para casa três mesas de comeres diversos, de 45 pratos cada uma, que o padres entre si repartiram. Mais se avisou que o Imperador tratava aos padres com demonstrações de afecto, e que no fim da última lua lhes tinha mandado para repartirem entre si vinte veados, cinquenta peixes, cem galinhas do mato, alguns frascos de amêndoas, e pastilhas de Portugal, e também letria, e várias frutas, e que por vezes lhe tinha mandado pratos da sua própria mesa. Também avisaram os padres que o Imperador nesta ocasião do banquete lhe perguntara: “como os cristãos não honravam a seus pais?” A que se lhe respondeu: “que tinham preceito para os honrarem”, com o que ficou muito satisfeito dando a entender, que até então vivia enganado. No dia 4 de maio em que estávamos na província de Pecheli, que é a mesma de Pequim, saiu a receber o embaixador um mandarim que governava as postas, e outro mandarim da cidade antecedente, que até então nos acompanhou; ao despedir-se perguntou ao Reverendo António de Magalhães: “este que vem a Cim Kum é do vosso reino?” E o padre lhe respondeu: “não vem a Cim Kum”, id est a pagar tributo, “mas sim a huey li”, isto é, a corresponder, “porque o vosso Imperador primeiro me mandou a mim com um mimo para o meu rei, e o meu rei agora lhe manda corresponder com outro mimo por este embaixador”. Com isto ficou o mandarim muito satisfeito, e eu sempre entendendo, que os mandarins da China nenhum empenho têm em que os embaixadores da Europa sejam tratados como portadores de tributo, e se usam das palavras Cim Kum, ou é por não faltarem aos seus formulários, ou é porque estas palavras não têm a inteligência que os europeus lhe têm dado, como o mesmo régulo 13 em uma ocasião disse aos padres da Corte. No dia 5 passámos junto da vila V-Kiam Hyen aonde os mandarins sairam a esperar, e oferecer mimo e mesas de coisas de comer, que todos aceitaram, e aqui soubemos também, que tinham os mandarins desta província, como os da antecedente, ordem especial para o bom tratamento do embaixador, e para o acompanharem cada um no seu distrito. Neste mesmo sítio 58 Zibelina. Mamífero carnívoro da família dos Mustelídeos, que vive nas regiões setentrionais, possuidor de uma fina e valiosa pele, também conhecida por marta-zibelina ou marta-sibéria, predominante na taiga do norte e este da Sibéria e também no norte da Ásia.
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