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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 206 este acescentamento, e despacho do condutor tártaro, em remuneração do serviço que fez na condução do embaixador para a Corte. Também trouxe o mesmo a notícia de que o Imperador ordenava, que o embaixador entrasse na sua Corte a 17 deste mês, em que o mesmo Imperador se havia recolher ao seu palácio da sua quinta chamada Yuen Min Yuen [圓明園] que quer dizer Jardim de Perpétua Claridade aonde o mais do tempo assiste, e que no dia 3 da quarta lua, que eram 23 do mês o havia admitir à sua presença. No dia 15 pela tarde chegámos a uma aldeia chamada Cham Kia van que dista da Corte quatro léguas, e por serem daqui para diante muito poucas as águas se resolveu o embaixador a ir daqui por terra. Nesta aldeia estavam esperando ao embaixador os padres Domingos Parreni francês, e André Pereira, a quem o Imperador mandou e entregou umas coisas de comer para o embaixador. Logo que o embaixador se avistou com eles, lhes perguntou pela saúde do Imperador; e feito isto se entrou a dispor a jornada por terra, a qual fizemos no dia 17, até chegarmos a uma sepultura, aonde dormimos, para no dia seguinte se fazer a entrada; e na mesma sepultura, em que havia umas boas casas se achavam dois mandarins do Tribunal dos Ritos com a incumbência de fazerem os preparos para a acomodação do mesmo embaixador. No dia 18, logo de manhã se principiaram a dispor as coisas, e a forma com que a entrada do embaixador se havia de fazer na Corte; e se principiou depois do meio dia na maneira seguinte: Em primeiro lugar havia 200 soldados tártaros de cavalo, dos quais uns iam diante desimpedindo o caminho, que a multidão do povo tomava, e os mais iam ao lado do embaixador, e mais comitiva conservando o mesmo caminho desimpedido; depois se seguiam dois soldados como os primeiros em duas fileiras, e atrás iam um terno de charamelas sínicas; seguiam-se logo mais seis soldados semelhantes, também em duas fileiras, e atrás deles outro terno de instrumentos semelhantes. Seguia-se agora o mimo de Sua Majestade em trinta caixões carregados por chinas em outros tantos andores pintados de amarelo, e cobertos cada um com pano da mesma cor, que é a da Casa Imperial. Seguiam-se ao mimo os quatro trombeteiros do embaixador com clarins de prata, e as armas reais pendentes em cada um; os vestidos eram mais de prata que de pano; e outro semelhante levava também o timbaleiro, que ia tocando os timbales; e uns e outros iam a cavalo. Seguiam-se logo, e também a cavalo, em duas fileiras, dez criados de acompanhar, e tão ricamente vestidos, que se não deixava divisar a cor do pano com a mesma prata que levavam; e atrás de cada uma destas fileiras ia um negro igualmente vestido com uma partazana60. Depois seguia-se o estribeiro do embaixador, montado em um bom cavalo, e com um vestido rico, e atrás dele iam também em duas fileiras os seis gentis-homens do embaixador a cavalo igualmente vestidos. Seguia-se logo o secretário também a cavalo, e depois o embaixador em uma cadeira de veludo azul frangeada, e com passamanes61 de ouro, a 60 Do português antigo, originário do francês “pertuisane”. 61 Fitas, galões, cordões ou tecidos entretecidos a prata, ouro ou seda.

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