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Transcrição em Português 207 quem carregavam oito chinas vestidos de seda azul com cintos encarnados, e na cabeça mauzus ou barretes, também encarnados, com plumagens da mesma cor. Aos lados da cadeira iam mais oito negros em duas fileiras, uns com armas de fogo, e outros com partazanas, e todos eles vestidos de azul, menos as vestes, e bocas mangas que eram encarnadas, mas tudo galoado62 de prata; seguiam-se logo os dois ajudas de câmara também a cavalo vestidos de veludo azul, e as vestes do mesmo encarnado, tudo galoado de prata, um levava o Tienzu, ou assento tártaro de que o embaixador usava na Corte, e outro levava um chapéu de sol, que já tinha levado, quando estivemos no Brasil; atrás destes iam dois chinas com dois cavalos brancos à destra, que eram do estado do embaixador; e atrás deles ia uma cadeira que o embaixador mandou fazer em Cantão à moda da China, quando entendíamos que a nossa jornada seria por terra. Atrás de tudo ia o fato do embaixador sobre doze andores pintados de verde com reposteiros de veludo azul cobertos, os quais para isso, tinha mandado fazer; e em último lugar se seguiam quinze carretas tiradas por cavalos, em que ia o fato da comitiva. Nesta forma se foi marchando até entrarmos na Corte, e no Kum Kuon que se achava preparado por ordem do Tibunal dos Ritos para a aposentadoria do embaixador. No mesmo Kum Kuon o estavam esperando todos os missionários europeus que ali assistiam, e também dois mandarins do mesmo Tribunal do Ritos, a quem se recomendou o preparo. Estes mesmos mandarins logo que o embaixador se recolheu, entraram a pedir-lhe a carta de Sua Majestade para o Imperador, e respondeu-lhe que Sua Majestade não escrevia ao Tribunal dos Ritos, mas sim ao Imperador; entraram a pedir-lhe a cópia da mesma carta, que igualmente se lhe negou; e por aqui principiou o embaixador a desviar-se quanto era possível do mesmo Tribunal dos Ritos, aonde só vão remetidos os embaixadores que vão a pagar tributo. No dia 19 se recolheu o Imperador à Corte da sua quinta, aonde tinha estado nos três dias antecedentes com todas as rainhas jejuando, para ao depois irem ao templo ou aula dos seus progenitores fazerem-lhe os seus costumados ritos. Toda a essência deste jejum ouvi dizer que consistia na abstinência das mulheres, e carnes, excepto algumas salgadas que tão somente comiam; e se dizia era o mesmo jejum dirigido a purificar as potências em ordem à melhor perfeição, a que eles chamam felicidade dos mesmos ritos. No dia 21 admitiu o régulo 13 na sua presença ao condutor tártaro, e ao padre Domingos Parreni, a quem depois o Imperador nomeou para intérprete da embaixada, e a ambos disse que era necessário que o embaixador fosse ao Tribunal do Ritos antes de tudo aprender as cerimónias, mas ao mesmo tempo o escusou de as ir lá aprender, por lhe dizer o mesmo condutor tártaro que ele as sabia já. Neste mesmo dia se falou no modo da entrega da carta de Sua Majestade para o Imperador; dizia o mandarim do Tribunal dos Ritos, com quem se tratou esta matéria, que o embaixador no dia da audiência, devia pôr a mesma carta sobre uma mesa, e que daí a havia tomar um mandarim de palácio e dá-la ao seu Imperador; respondeu o 62 Galoado, o mesmo que agaloado.

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