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Transcrição em Português 209 seja caso, que tenha negócios como os do Papa”. E que então respondera o padre Parreni, que aquilo não era mais que uma fórmula, com que se escreviam as cartas que os embaixadores da Europa costumavam levar para lhes darem crédito. No dia 25, chegou o mandarim do Tribunal dos Ritos com a resolução de que o embaixador poderia entregar ao seu Imperador em mão própria a carta que lhe levava. E no dia 26, sem embargo de o haver dispensado o régulo 13, ainda instavam em que o embaixador fosse ao tribunal a aprender as cerimónias; porque se as não soubesse seria uma grande culpa, que se imputaria ao tribunal, aonde, dizia o mesmo mandarim, que iam ensaiar-se todos os embaixadores, e até os mesmos régulos para poderem entrar na presença de Sua Majestade Imperial. No dia 27, quando já estava destinado o dia seguinte para a primeira audiência do embaixador, se lhe pediu uma lista dos que haviam ir com ele a palácio; e talvez para saberem as mesas e comeres que haviam ter preparado, porque costuma o Imperador antes de dar audiência aos embaixadores mandar-lhe de comer, e a toda a comitiva, como nós mesmos experimentámos. No mesmo dia visitou também o condutor tártaro ao embaixador, e lhe disse, que o régulo 13 o tinha culpado de haver consentido que o mesmo embaixador entrasse com oito chinas, que lhe carregavam a cadeira, quando os régulos só usavam de cadeira a 4; e receoso o mesmo condutor tártaro do que lhe poderia suceder, entrou a dizer ao embaixador, que o Timien ou honra não estava em serem quatro ou oito chinas os da sua cadeira, persuadindo-o a que no dia seguinte quando fosse a palácio só usasse dos quatro; porque de outra sorte se ficava ele tártaro expondo a que o privassem do seu mandarinado. E á vista de tudo resolveu o mesmo embaixador não ir no dia seguinte em cadeira como tinha entrado, mas sim a cavalo com toda a sua comitiva, e nos mesmos cavalos, que antecipadamente se tinham comprado por sua ordem na Corte. No dia 28 saiu o embaixador para palácio, onde teve a primeira audiência pelas oitas horas na maneira seguinte: em primeiro lugar ia o seu estribeiro montado a cavalo com um timor diante. Depois se seguiam os seis gentis-homens em duas fileiras, e diante de cada um ia também outro semelhante timor. Logo se seguia o secretário da embaixada, e depois dele ia o embaixador, e todos de cavalo. Aos lados do mesmo embaixador iam os seis criados de pé, e atrás deles iam os quatro trombeteiros, mas não iam nesta ocasião nem os timbales, nem os clarins por não fazerem estrondo nos ouvidos da Majestade Imperial. Atrás de tudo ia um ajudante da câmara, também montado a cavalo com um Tiézu, ou assento tártaro, que servia para se assentar o embaixador. Todos nesta ocasião iam com os mesmos vestidos, com que se fez a entrada na Corte, e os cavalos também com os mesmos arreios, que constavam de um freio e sela à moda da China, um charel64, e um manto, tudo com passamanes de prata à moda da Europa, excepto o cavalo em que o embaixador ia, que levava outra qualidade de arreios, 64 Xairel, do árabe jilál, “adorno de seda para cobrir a garupa do cavalo.

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