Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 210 em tudo mais preciosos, porque eram em tudo ricamente bordados de finíssimo ouro; e nesta forma se continuou até à porta do primeiro pátio do Palácio Imperial. Logo que chegámos à porta do primeiro pátio do palácio nos apeámos todos, e fomos continuando pelos pátios dentro, e na mesma ordem que até ali se tinha vindo, menos o secretário da embaixada, que aqui ia diante de todos em primeiro lugar, por ser o mesmo que levava a carta de Sua Majestade para o Imperador, e a levava pendente sobre os ombros na forma do costume e ritos sínicos, com quem nesta parte e noutras coisas mais foi preciso que nos conformássemos. E nesta forma fomos passando alguns pátios até chegarmos ao quarto, onde descansámos por algum tempo, e juntamente comemos algumas coisas que o Imperador nos mandou oferecer, assistindo ao embaixador um generalíssimo das armas tártaras e dois mandarins mais da primeira ordem. O mesmo generalíssimo neste lugar e por ordem do Imperador fez ao embaixador algumas perguntas, sendo a principal, a que negócio havia ido àquela Corte? O embaixador lhe respondeu: “que El-Rei Nosso Senhor obrigado ao Imperador defunto pela lembrança do mimo que lhe mandou pelo padre Magalhães, o havia mandado a ele também com outro mimo, e dar a Sua Majestade Imperial, com o pêsame da morte do mesmo defunto, os parabéns da sua exaltação ao trono, e agradecer-lhe juntamente o bem que sempre tratou os seus vassalos assistentes naquele Império, e em Macao”. Feito isto entrou o mesmo generalíssimo a dar parte ao Imperador, e logo depois tornou a perguntar, se tinha o embaixador mais alguma coisa que dizer? Duvidava o mesmo embaixador satisfazer a esta pergunta, porque só na presença do Imperador queria dizer o mais a que tinha ido, mas inteirado que por ordem do mesmo Imperador se lhe faziam todas aquelas perguntas, respondeu então dizendo: “que tinha mais que pedir da parte de El-Rei seu amo ao Imperador, que quisesse se conservasse entre ambos os reinos aquela recíproca amizade e correspondência, que houve no reinado do Imperador defunto”. Logo que se concluíram as perguntas e respostas deu o embaixador as graças aos mandarins que lhe assistiam, e dadas fomos continuando, e passando outros pátios até chegarem a uma sala, aonde esperámos algum tempo pela hora que estava determinada para a audiência. Nesta mesma sala ficaram todos os que até ali acompanhavam ao embaixador, menos o secretário da embaixada, e um dos seus gentis-homens mais que o acompanharam também até a audiência se acabar. O mesmo secretário que até aqui levava a carta de Sua Majestade pendente sobre os ombros em um embrulhado de tafetá amarelo, a levou desta sala para diante nas mãos levantadas bem defronte do rosto, como quem a oferecia; e passado um pátio, em que assim a levou a entregou ao embaixador que a levou também na mesma forma por todo o outro pátio até chegar ao trono, aonde posto de joelhos a entregou ao Imperador, o qual logo no mesmo tempo a entregou a um mandarim, que tinha a um lado esquerdo, o qual mandarim a teve também nas mãos, como nós a levámos, enquanto a audiência durou.
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