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Transcrição em Português 211 Logo que o embaixador entregou a carta de Sua Majestade, tornou a sair para um pátio que confinava com a sala do trono, aonde se achavam vários mandarins de armas postos em fileiras; e no mesmo pátio bem defronte da porta do meio, e do mesmo trono, bateu nove vezes cabeça, imitando-o ao mesmo tempo e no mesmo lugar o secretário e o gentil-homem, que também o acompanharam nesta e nas mais acções que se lhe seguiram; porque com ele entraram também na sala do trono, tiveram assentos, e tomaram o chá tártaro, que o Imperador a todos deu. Feita esta cerimónia tornou o embaixador a entrar para a sala do mesmo trono, acompanhando-o o padre Domingos Parreni missionário francês, que foi o seu intérprete, e também dois referendários e um presidente do Tribunal dos Ritos, que também o tinham acompanhado quando entrou a entregar a carta; mas por conta do mesmo intérprete, como já praticou em semelhantes funções, correu sempre a encaminhá-lo e dirigi-lo. Assim entrou o embaixador na sala do trono aonde o Imperador estava; e logo que entrou se assentou ao seu lado direito, mas em distância, sobre o seu assento tártaro na mesma forma que estavam assentados vários régulos, os quais todos se levantaram quando o embaixador entrou. Logo que o embaixador se assentou, o que fez por mandado do Imperador, lhe rendeu por isso as graças batendo-lhe cabeça, e nós também ao mesmo tempo; e pondo-se logo de joelhos principiou a falar na maneira seguinte: Sou mandado por El-Rei de Portugal Dom João o 5.o para dar a Vossa Majestade os parabéns da sua ascensão ao trono. El-Rei meu amo fez tão grande estimação da amizade de Vossa Majestade, que se não satisfaz com menos que mandar um embaixador, que dos últimos confins do Ocidente viesse a reverenciar a Vossa Majestade, e congratulá-lo por se achar digno sucessor do Império de seu pai, e significar-lhe com mais vivas expressões o muito que deseja se conserve interrupta uma boa correspondência entre ambas as coroas; e porque a grande propensão que o Imperador, pai de Vossa Majestade mostrou para favorecer os vassalos de El-Rei meu amo, assim moradores em Macao, como assistentes neste Império, e o acto de atenção que o Imperador fez em mandar ao meu monarca um grandioso mimo, pôs a El-Rei meu amo em um grande reconhecimento. Foi Sua Majestade servido ordenar-me que da sua parte viesse segurar a Vossa Majestade o muito que sentiu a morte do Imperador, e que se podia suavizar o seu sentimento, a notícia que juntamente teve de que Vossa Majestade lhe sucedia no trono; e como a tal manda agradecer a Vossa Majestade com o maior encarecimento estes favores, que os de Macao, e mais portugueses têm recebido neste Império. Eu, que indigno de tão alta comissão ignoro os termos mais gratos a Vossa Majestade, com que devo exaltá-lo, peço a Vossa Majestade tenha por certo, que se houver alguma falta nesta acção, será nascida da minha ignorância, e pouca prática do país, e não da vontade do meu monarca, que esta é muito grande de que eu faça a Vossa Majestade todos os obséquios possíveis; mas bem compreende o grande talento de Vossa Majestade, que nunca os vassalos podem acertar em tudo na execução dos altos desejos de seus soberanos; os de meu amo se manifestam a Vossa Majestade por essa carta.

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