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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 212 A tudo isto, que o mesmo embaixador tinha já dado por escrito ao intérprete para o verter, e depois repetir na presença do Imperador, respondeu o Imperador na maneira que se segue: “meu pai me ensinou quarenta anos e depois cheguei a este trono; a minha primeira tenção foi imitar a meu pai no seu modo de governo em tudo, e principalmente na afeição que teve aos estrangeiros” (disse o Imperador para o intérprete) “e tu bem o sabes; de mais que todos bem sabem, que eu no bom trato, não faço distinção de estrangeiros a domésticos; o Rei de Portugal mandou aqui de tão longe, pergunta-lhe (falando com o intérprete) se está bom o seu rei?” E respondendo-lhe o embaixador que sim, continuou o Imperador, dizendo: “que ele embaixador tivera um grande trabalho de fazer uma tão grande viagem pelo mar, pergunta-lhe (tornou a dizer) também se está ele bom”; aqui bateu o embaixador, e nós também com ele, cabeça pela mercê de lhe perguntar o Imperador pela saúde, e lhe respondeu, que sim estava bom. A tudo isto se seguiu a cerimónia do chá tártaro que o Imperador nos deu, e nós tomámos na forma seguinte: postos de joelhos se nos ofereceu o chá, e o tomámos com ambas as mãos cada um na sua porcelana, que eram de prata. Logo sustentando em uma mão o chá, e com outra tocando a terra batemos uma vez cabeça, e depois nos assentámos, e assim assentados, bebemos o chá; e depois postos outra vez de joelhos restituímos as porcelanas e batemos segunda vez cabeça, tudo em acção de graças pela mercê que nos fez o Imperador; e feito tudo isto nos levantámos todos, e fomos saindo pela mesma porta por onde tínhamos entrado, concluindo-se todo este acto com a mesma cerimónia de bater cabeça nove vezes, mas já em outro pátio mais distante de donde se não via, nem podia ver o trono; e neste mesmo tempo em que o Imperador ainda ficava no trono, ouvi que ficava dizendo para os magnates, que lhe assistiam na sua língua tártara, “eré ni almá humegi yxangá torungó quadé tui bolé chió joraçu”, que na língua sínica quer dizer “çugin eoxum limao”, e na nossa portuguesa “homem agradável, que não é como a mais gente” (falava dos moscovitas). No dia 29 de maio teve o embaixador notícia por via do mandarim, que assistia no Kum Kuon, que o mimo de Sua Majestade para o Imperador se queria introduzir por meio do Tribunal dos Ritos; e como por este tribunal só se introduzem as coisas que outros embaixadores tributários levam ao mesmo Imperador, cuidou em que se falasse por via dos padres Parreni e António de Magalhães neste ponto ao régulo 13 primeiro ministro do Império, com que se comunicavam todos os incidentes desta embaixada; e fazendo-lhe com efeito sobre esta matéria hyceu ou memoriais ao Imperador, um em nome do mesmo régulo, e outro em nome do mandarim que assistia no Kum Kuon, resolveu o mesmo Imperador, que o mimo se oferecesse imediatamente a ele sem ir pelo Tribunal, como o embaixador queria. No primeiro de junho propôs o Tribunal da Matemática ao Imperador dois dias, e ambos convenientes para a entrega do mimo, para que escolhesse um deles na forma do seu costume, e se determinou o dia 7 deste mês para lho levarmos à sua quinta, onde então assistia em distância de três léguas da Corte. No dia 6 em que se cuidava na disposição do mimo, para se conduzir no dia seguinte, mandou o mandarim que assistia no Kum Kuon, mostrar ao embaixador duas listas do mesmo mimo, e dois memoriais para o Imperador, um em nome

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