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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 214 quinta render-lhe novamente as graças e bater-lhe novamente cabeça pelo mimo da prata, e outros, que o Imperador lhe fez, por lhe mandar por vezes pratos com iguarias da sua mesa. No dia 13 em que com efeito fomos à quinta do Imperador, apenas chegámos nos recolhemos, e comemos também do que o Imperador nos mandou; e passado algum tempo foi o embaixador conduzido a ver a Quinta Imperial, acompanhando-o um dos seus gentis-homens, e também o secretário da embaixada, porque não houve licença para mais. Logo que entrámos no segundo pátio de palácio, nos ajoelhámos todos, e sem vermos o Imperador, lhe batemos nove vezes cabeça, e depois estando de joelhos, principiou o embaixador na presença dos mandarins que o conduziram em voz alta: “que o Imperador lhe tinha feito tantos benefícios que os não podia numerar; porque o tinha mandado tratar com muita honra pelo caminho em todo o seu Império, e na mesma Corte lhe estava assistindo com muita grandeza, mandando-lhe não só pratos da sua mesa imperial, mas também da sua prata, tendo conseguido de mais de tudo a fortuna de o ver e de lhe falar; que não podia bem explicar-lhe o agradecimento por tantas honras, mas que iria publicá-lo por todo o mundo”. Dito isto, que o intérprete do embaixador logo verteu aos mandarins, ou para melhor dizer na sua presença ao Imperador, com quem o embaixador falava, ainda que ausente, nos levantámos e fomos continuando em ver a celebrada quinta, que não consta mais que de burlescos montes e árvores, e muitas casas além das de palácio; e também águas por onde andam embarcações em que o mesmo Imperador com os seus passeia e se diverte; e vista nesta forma a quinta do Imperador, e por favor que ele reputou por muito especial, e que a poucos fazia, nos despedimos e batemos nove vezes cabeça no mesmo lugar onde já tínhamos batido; e então a batemos em agradecimento de se nos mostrar a quinta, que muitos outros já tinham visto em outras ocasiões, como ao depois soubemos, concluindo a jornada deste dia com irmos de caminho ver o lugar das sepulturas dos nossos padres, e juntamente aquele celebrado sino de que tanto se fala na Europa, e não há dúvida ser o mesmo sino obra magnífica e de suma grandeza; porque tem 15 palmos de diâmetro na boca e vinte e dois ou mais, ou mais de alto [sic]65 ; por dentro e por fora está todo cheio de caracteres sínicos, de que tão somente se compôs um livro. Acha-se o mesmo sino em um templo de pagodes levantado quatro ou cinco palmos da terra, e se não toca, nem se pode tocar, salvo com algum martelo, com que os mais sinos dos mais templos também se tocam. No dia 21 de junho mandou o embaixador pedir os votos, e pareceres de todos os padres da Corte, sobre se deveria falar ao Imperador no particular da missão. Se se falasse, que poderia seguir-se? E também que se poderia seguir se se não falasse? E por votos que os mais dos padres deram se assentou por muito conveniente o não falar na matéria, tanto porque não havia esperança de conseguir coisa alguma, como porque da mesma escusa, que o Imperador lhe havia de dar, ficariam entendendo os mandarins que o mesmo Imperador não 65 Vinte e dois ou mais de alto.

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