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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 218 No dia 6 de julho avisou o condutor tártaro ao embaixador, de que estava determinado o dia 8 para ir à quinta do Imperador a receber o mimo que veio para a Sua Majestade, e que aos 29 da lua havia o embaixador partir para Macao. Mais lhe disse o mesmo tártaro, que o régulo 13 não sossegava enquanto ele não saía da Corte, talvez porque estaria com cuidado de que se falasse na missão, em que ele por nenhum modo queria se falasse. No mesmo dia 8, em que com efeito fomos a receber o mimo, teve o embaixador também audiência de Sua Majestade Imperial, de quem também se despediu. A forma da audiência foi também da maneira seguinte: apenas chegámos à quinta do Imperador, logo o embaixador foi conduzido ao lugar das outras vezes, que nesta ocasião estava mais ornado e preparado para no fim se representar, como se representou pelos eunucos do Imperador uma comédia, enquanto nós comemos. Passado algum tempo foi o embaixador chamado e conduzido à presença do Imperador, a quem havia falar acompanhando-o alguns dos mandarins condutores e mestres de cerimónias, um de seus gentis-homens, e juntamente o secretário da embaixada com os padres Domingos Parreni, André Pereira, e um seu criado china que levou de Macao, e serviu também nesta ocasião de intérprete. Logo que passámos os primeiros dois pátios, e entrámos no 3.o, que confina com a sala do trono, nos pusemos em fileira ao lado esquerdo da mesma sala, onde esperámos que o embaixador chegasse, digo que o Imperador chegasse, e se subisse ao trono, se ouviram algumas pancadas, ou toques de caixa, em sinal de que o mesmo Imperador vinha. Estando já o Imperador no trono, fomos nós entrando na sala, onde no pusemos de joelhos defronte das mesas que nos estavam preparadas, até que o Imperador mandou que nos assentássemos, por cuja mercê ao mesmo tempo lhe batemos cabeça. Passado algum tempo em que tudo esteve calado, veio o chá tártaro para o Imperador, e juntamente para nós que o recebemos, e por ele antes e depois de o tomar, postos de joelhos lhe batemos cabeça. À bebida do chá se seguiu também a do vinho para o mesmo Imperador; e ele assim que recebeu o vaso do vinho chamou logo para junto de si ao embaixador, a quem deu o vaso, pedindo-lhe quisesse beber o vinho todo, ou aquele que pudesse. E feito isto, havendo o embaixador primeiro [batido] cabeça pelo especial favor, se levantou para o lugar do seu assento, levando um prato que o mesmo Imperador da sua própria mesa que tinha diante do trono repartiu com ele. A este tempo veio também vinho para nós, que o bebemos, e demos pelo favor as graças batendo cabeça antes e depois de o bebermos. Seguiu-se o descobrirem-se as mesas, tanto a do Imperador, que estava defronte do seu trono, como as nossas que cada um tinha diante de si, e todos nós com muita pausa principiámos a comer, e igualmente a receber o favor dos pratos que o mesmo Imperador também repartiu connosco. Neste mesmo tempo perguntou o Imperador ao embaixador, se a nossa terra era também quente e fria, como a China, e o embaixador lhe respondeu que quase era o mesmo, porque estava também quase na mesma altura. Disse mais o Imperador: “agora que o embaixador volta para o seu reino guarde-se do calor, que lhe não faça mal, para que chegue com saúde à sua terra; o Rei de Portugal que cá o mandou em distância de nove mil léguas, soube escolher gente a propósito, e conhecendo o seu talento o enviou com este encargo; o embaixador tem feito belamente, de modo que eu me acho satisfeito; quando chegar a Portugal, pergunte da minha parte pela saúde do seu rei”. A isto respondeu o embaixador: “que os benefícios que tinha recebido depois que

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