Transcrição em Português 219 entrou no seu Império eram inumeráveis, e lhe faltavam palavras para os explicar, mas que de tudo daria conta a El-Rei seu amo, que o estimaria muito, e que a melhor nova que lhe poderia trazer depois da saúde de Sua Majestade Imperial, era de que Sua Majestade lhe havia dito tratava aos europeus do mesmo modo que o Imperador defunto; de mais que o mesmo Imperador tivera sempre na sua protecção aos moradores de Macao, e assim esperava fizesse Sua Majestade o mesmo despachando ordens para os mandarins de Cantão, conducentes para o mesmo fim”. A isto respondeu o Imperador acenando com a cabeça que sim. A tudo isto se seguiu pedir-lhe o embaixador a determinação do dia em que havíamos sair da Corte, e respondeu o mesmo Imperador, que ele o determinaria; que ele o tinha chamado à sua presença para o divertir, mas porque estava o tempo muito quente, seria mais cómodo sair com os grandes para outro lugar mais fresco, aonde poderia descansar e comer a seu gosto, e ver juntamente a comédia. E com isto se concluiu esta que foi a última audiência que o embaixador teve na Corte do Imperador, a quem ao mesmo tempo que estava no trono assistiam vários archeiros e magnatas, que também lhe assistiram na ocasião da primeira audiência. Logo que saímos aos pátios do palácio para fora, se foi mostrando ao embaixador o mimo que depois conduzimos para a Corte, e ultimamente para este reino; e visto o mimo que se achava em trinta e três caixões, além dos sete que também teve o embaixador de mimo, entrámos para o lugar da comédia, a qual vimos representar ao mesmo tempo que comíamos, e não faltaram nesta ocasião bateres de cabeça, porque a batíamos a cada favor dos muitos que o embaixador recebeu, nesta ocasião e em todas as mais; e por último nos despedimos, acompanhando o mimo de Sua Majestade até o Kum Kuon, aonde entrámos na tarde do mesmo dia, e muito bem molhados, porque foi neste dia a água que choveu excessiva. Logo que o embaixador tomou conta deste mimo, que foi como extraordinário, e fora do costume do Império, entrou a cuidar no modo com que se havia haver no recebimento de outras muitas coisas que se lhe haviam entregar por via dos tribunais, tanto para a Sua Majestade, como para o mesmo embaixador e os mais da comitiva; porque a todos tem por costume o dar-se na despedida alguma coisa, a que eles chamam prémio; e porque nas mesmas coisas que os tribunais em casos semelhantes costumam dar aos embaixadores, costumam entrar também trezentos mil réis em prata, que os mesmos tribunais mandam aos amos dos ditos embaixadores, se ponderou se seria conveniente aceitar a mesma prata o embaixador, que com o mais se lhe havia entregar para Sua Majestade; mas como se assentasse que este costume só devia ter lugar com os embaixadores dos reinos que mandam pagar tributo, procurou o mesmo embaixador livrar-se de a receber, e para este efeito, foi preciso recorrer ao mesmo Imperador, que foi servido responder, que o embaixador não tinha ido a pagar tributo, nem a fazer comércio, ou outro algum negócio mais, que o de perguntar-lhe pela saúde da parte do seu rei, e que assim andava bem em não querer receber os trezentos mil réis que o tribunal queria dar-lhe, conforme o costume. Que ele Imperador tinha dado um conto de réis ao embaixador pela estimação que dele fazia, e assim lhe não podia ocorrer mandar ao seu rei 300 mil réis, e que folgaria que isto chegasse à notícia de El-Rei de Portugal, e de todos os reinos da Europa. Com esta resolução sobre os 300 mil réis do costume, se resolveu o embaixador no dia 14
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