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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 220 de julho a ir a palácio receber o mais que o tribunal costumava dar tanto para El-Rei Nosso Senhor, como para o mesmo embaixador e toda a mais comitiva, porque todos nesta ocasião se acharam presentes. Logo que entrámos no primeiro pátio de palácio, onde recebemos os prémios nos pusemos todos de joelhos, e batemos todos nove vezes cabeça, achando-se presentes vários ministros dos tribunais, a quem tocava o cuidado e expedição deste último acto; porque se achava em primeiro lugar um presidente do Lypu [禮部] ou Tribunal das Cerimónias para autorizar as que neste acto se fizessem. Em segundo lugar se achava também um mestre de cerimónias do Kum Lôçu ou tribunal sujeito ao Lypu, para nos ensinar o como as havíamos fazer. Em terceiro lugar se achavam vários mandarins do Hupu ou Tribunal da Fazenda, por conta de quem corria a prata que recebemos. Em quarto lugar se achavam também alguns ministros, e o mesmo presidente do Kumpu ou Tribunal da Obras e Fábricas, a cujo cargo estava a repartição da seda, que também nos deram. Em quinto e em último lugar, se achava o presidente com alguns mandarins do Tuchá yuen pu ou Tribunal dos Censores, para vigiarem se as mesmas cerimónias se faziam bem e com quietação, na forma dos seus ritos. Logo se seguiu a entrega de várias peças de seda, que o embaixador recebeu com todo o asseio para trazer a Sua Majestade, e ao depois se seguiu o receber o mesmo embaixador de joelhos também as peças de seda que lhe deram, como também o valor de 100 mil réis em prata, que também teve; e depois se seguiu a repartição dos mais ainda que limitados prémios, que todos por sua ordem postos também de joelhos fomos recebendo; e depois de tudo isto se concluiu este acto e última despedida, com tornarmos todos, e ao mesmo tempo, a bater nove vezes cabeça, servindo-nos para esta cerimónia de compasso uma voz que de quando em quando ouvíamos do mestre das cerimónias; e é a forma com que se bate nove vezes cabeça a seguinte: primeiramente postos todos de pé com os chapéus na cabeça (porque é contra a política da China estar descoberto) com as mãos estendidas ao natural, se ouvia uma voz Kuey [跪] com que olhávamos [sic]69 . Logo passado algum tempo, se ouvia outra voz Koteu [磕頭] com que tocávamos a terra com as mãos, e juntamente com a cabeça; e postos outra vez de joelhos ao som da mesma voz que se repetia, tocávamos da mesma maneira mais duas vezes a terra. Logo se ouvia outra voz Kilay [起來], com que nos levantávamos e púnhamos de pé, como no princípio; e toda esta cerimónia se repetia por três vezes ao compasso das mesmas vozes, que também se repetiam até se encher o San Kuey Sanpay [三跪三拜], isto é o número de ajoelhar três vezes, e [de] cada uma bater três vezes cabeça. No dia 16 do mesmo mês de julho, em que com efeito saímos de Pequim, chegámos com o mimo de Sua Majestade a Chan Kia van, que é uma aldeia onde tínhamos desembarcado, quando caminhávamos para a mesma Corte; e no mesmo tempo que chegámos, chegaram vários padres portugueses, e estrangeiros, e também o mandarim Poyâba ou mordomo do 69 Ajoelhávamos.

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