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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 226 e costumes que têm os homens, os quais além de casarem com quantas mulheres querem, têm principalmente os mandarins a obrigação de vários ritos que a nossa religião lhe não admite. Cada uma das províncias deste Império tem uma língua a que chamam da terra, e em todas há uma universal a que chamam os nossos mandarina, porque dela usam, e muito principalmente os mandarins do Império; sendo porém as línguas diversas, são os mesmos os caracteres com que se escreve em todas as províncias. As palavras são todas de uma só sílaba, e cada uma tem vários significados segundo os vários modos e tons com que se pronuncia; mas quantas são as significações, quantos são os caracteres, os quais por este respeito não têm número no Império da China. Escrevem os chinas do alto para baixo, e acabam os seus livros onde nós principiamos, porque escrevem de diante para trás, quando nós escrevemos de trás para diante; e com tal ordem e política escrevem os chinas, que se em uma linha ou regra cabe um caracter significativo de alguma pessoa grande, a não continuam, mas antes principiam outra regra pelo mesmo caracter, pondo-a nesta forma no lugar mais alto segundo o que a pessoa merece. São os mesmos chinas sumamente políticos e cerimoniáticos79, e basta que tenham um tribunal de cerimónias, que entre os mais tribunais é o supremo. A sua usual cortesia quando se encontram é juntarem as mãos fechadas, levantadas um pouco, quase até aos peitos, e depois baixá-las. Também às vezes costumam bater cabeça postos de joelhos, mas nunca uns virados para os outros; isto, porém, só procede nos pequenos, que os grandes e os que se tratam por igual, somente fazem a primeira, e quando muito se inclinam com o corpo quando abaixam as mãos que primeiro levantaram; porque nenhum consente na cerimónia de bater cabeça, a que de ordinário mutuamente se oferecem. Outra cerimónia têm também os chinas e os tártaros, com que gastam infinito papel, e de que para se visitarem ou mandarem uns perguntar pela saúde dos outros, usam de um Tiezu, ou papel de visita, que não consta mais que de uma tira de papel comprida, e algum tanto larga, em que escrevem alguns caracteres com que se saúdam e reverenciam, mas com diferença no papel, porque os humildes usam de papel azul escuro, que significa humildade para visitarem os maiores; e os grandes, e que se tratam por igual usam de papel vermelho, e até nestes caracteres em semelhante matéria há diferença, porque os humildes usam de caracteres pequenos, os que se tratam por igual de caracteres medianos, e as pessoas grandes usam de caracteres maiores para com os seus inferiores. Outras coisas mais usam os chinas de que os europeus não usam, porque sendo na Europa melhor o lugar da mão direita, na China para as partes do norte, é mais honrado o lugar da mão esquerda; mais, os europeus têm as suas cadeiras nas suas salas, como nós todos sabemos, e os chinas as têm em duas fileiras iguais no meio das salas, de maneira que quem entra para 79 Cerimoniosos.

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