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Transcrição em Português 227 se assentar entra pelo meio das mesmas fileiras, e a cadeira última da fileira, que fica à mão direita, é também o melhor e o principal assento dos chinas; e finalmente se o estar coberto diante dos maiores é descortesia entre os europeus, na China é descortesia o estar descoberto diante dos maiores. Entre os chinas e os tártaros também há alguma diferença, suposto que convenham entre si também em muitas coisas; porque os chinas usam de cadeiras e mesas altas como nós usamos, e pelo contrário, os tártaros se assentam em estrados, e usam de umas mesas muito baixas, como entre nós as mulheres; e comendo ordinariamente os tártaros tudo assado, os chinas tudo regularmente comem cozido; mas porém uns e outros comem os mesmos mantimentos e bebem as mesmas bebidas, como é o chá e o vinho que fazem do arroz, que entre os mesmos chinas e tártaros é o seu pão de que usam, suposto que lhe não faltam trigos em muitas províncias, e em abundância, mas usam tão somente da farinha para fazerem certos pô pô, ou bolos cozidos ao bafo da água, e outros a que chamam xeupim, id est bolos assados de que mais se usa em umas províncias do que em outras, além de muitos coscorões, e vários bolos doces, que se fazem da mesma farinha. Também convém com os tártaros e os chinas, em que não usam nas mesas de toalhas, guardanapos, facas, e nem de garfos, mas sim somente de uns kuaizu, ou palitos redondos com que facilmente tudo comem, porque tudo lhe vai à mesa feito em bocadinhos. Suposta a variedade dos climas de cada província, também a há nos mantimentos que cada uma produz, mas ordinariamente o que em todas comem os chinas e os tártaros é o porco, de que em todo o tempo usam, a galinha, o pato, a ade, porque de tudo isto há em abundância em todo o Império. Também comem vaca ainda que pouca, porque mal há na China as que são necessárias para a cultura das terras; mas comem bufara, e cabra, carneiro, e mais casta de aves; e até os cavalos, os cães, os burros, e os ratos servem de sustento para os chinas pobres, de que provem haver muitos lázaros ou leprosos na China. Vestem os chinas e tártaros, homens e mulheres, uns de seda e outros de algodão, segundo os cabedais de cada um, e os que são ricos usam de várias sortes de vestidos segundo a diversidade dos tempos. Não usam os chinas de carruagens de rodas, mas sim de cavalos, mulas, machos, e cadeiras de mãos, tanto para o passeio, como para as jornadas, nas quais também usam de certas liteiras, quase como as nossas. Não têm os chinas nem os tártaros mais moeda que uma de cobre, a que eles chamam Tumcien, e corresponde a um nosso real, e nem sempre e em todas as províncias tem o mesmo valor a moeda dos chinas. Do ouro usam como de qualquer outra mercancia, porque o vendem por mais e menos preço segundo os tempos; e da prata, que é todo o dinheiro dos chinas, usam os mesmos cortando e pesando, para o que usam todos de balança e tesoura, de maneira que se entre nós se faz a conta do dinheiro por moedas, entre os chinas se faz a mesma conta por pesos, e vale o mesmo dizerem os chinas tantos cien, ou oitavas de prata, como dizermos nós tantos tostões, pois cada tostão pesa uma oitava, et sic de coeteris80. 80 Do lat. et sic de coeteris. E assim por diante.

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