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Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 228 Há na Corte de Pequim além de vários tribunais pequenos, seis a que chamam os supremos tribunais da Corte; um se chama Lypu [禮部], que é o Tribunal dos Ritos, e entre todos os tribunais o maior; outro se chama Hupu [戶部], que é o Tribunal da Fazenda do Imperador; outro se chama Lypû [吏部], que corresponde ao nosso Desembargo do Paço, porque nele se despacham os ministros de letras que governam o Império; outro a que chamam Pimpû [兵部], que corresponde ao Conselho de Guerra, porque se tratam nele todos os negócios militares; outro se chama Himpû [刑部], que é como um tribunal que só serve para decisão das causas crimes; e outro se chama Kumpû [工部], que é o tribunal que cuida das obras públicas e fábricas do Imperador; e em uns e outros tribunais, em que juntamente há mandarins chinas e tártaros, há também um presidente e um como fiscal do bem e mal, que nele se obra. Nas províncias também há muitos mandarins, assim como há também muitos tribunais, porque tem cada província em primeiro lugar uma cidade principal que é metrópole, em que há os ministros seguintes: um Tu Eyuen, a que nós vulgarmente chamamos vice-rei que governa a mesma província toda no político, com sujeição, porém a outro mandarim superior a que chamam Çum tó [總督], o qual ordinariamente também no político governa duas províncias. Tem mais a mesma metrópole um Chifú [知府], que é como governador da cidade, e a quem também vão por recurso as causas dos mandarins inferiores; dois Chihyuen [知縣], que são como dois juízes do civil, que há nesta Corte de Lisboa; um Ngam chaçu [按察使], que é como ministro do crime; um Puchim-çu [布政使], que é o tesoureiro da fazenda real, e bem assim há outros ministros mais tanto no político, como no militar, em que de ordinário são os tártaros os que ocupam os maiores postos. Tem mais cada província outra cidade da segunda ordem chamada Cheu [縣] com um mandarim a que chamam Chicheu [知縣], ou governador do Cheu [縣], ou cidade da segunda ordem, e assim mais dois Chi hyen [知縣], ou governadores das duas vilas, que cada uma destas cidades também compreende, além de outros mais mandarins, políticos e militares, os quais são sem número no Império da China. Ultimamente tem cada província várias [cidades] da terceira ordem a que chamam Hyen [縣], e Chi hien [知縣] aos mandarins que as governam, demais de infinitas aldeias, que também há em cada província. Em cada uma das ruas das vilas e cidades deste Império há sempre um china a que chamam a cabeça da rua, com obrigação de vigiar quem entra e sai, e o que na mesma rua sucede, para o participar aos mandarins; costuma haver também continuas vigias por todas as vilas e cidades do Império, que de noite estão sempre alerta, como se os chinas vivessem sempre em guerra, e com o inimigo à vista. De mais destas prevenções há também outra em todas as vilas e cidades do Império, e vem a ser, que em todas as ruas das vilas e cidades há portas que se fecham de noite, e de mais disto há em todas as ruas guardas de soldados, que impedem o andar-se de noite por elas, de maneira, porém, que serve esta cautela e prevenção dos chinas para quietação dos povos, porque os defendem dos ladrões, que são infinitos em todas as terras; mas não impedem a comunicação dos moradores das mesmas vilas e cidades, porque conduzidos pelas mesmas guardas, saem e se recolhem para suas casas seguros depois que fazem o seu negócio.

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