991010349879806306

Relação Oficial da Embaixada do Rei D. João V de Portugal ao Imperador Yongzheng em 1725-1728 230 Não há neste Império estudos alguns como há na Europa, mas está cada um na sua própria casa com um letrado que toma para mestre. Os seus livros principais por onde estudam são uns chamados Kim [經] ou livros clássicos, que contêm vários e admiráveis preceitos, e todos morais, por onde se governam, e uns e outros se devem ao celebrado Confúcio, o mais famoso filósofo que os chinas tiveram, e a quem os mesmos chinas letrados dão uma suma veneração e honra, como em agradecimento das boas doutrinas que lhes deixou, e nesta forma é que se fazem os letrados na China, aonde depois de vários e rigorosos exames são providos nos mandarinados, e se fazem os mesmos exames na China da maneira seguinte: Além do governador que há em cada uma das vilas, há também um mandarim como conservador dos estudantes e bacharéis, que há na mesma vila; este mandarim de três em três anos, em que vai a cada província um examinador da Corte, dos mesmos estudantes seus súbditos, nomeia e apresenta os que lhe parecem capazes ao mandarim, e governador da cidade para que deles também faça escolha e apresente ao mesmo examinador da Corte os que achar capazes de entrarem no exame. Neste mesmo exame, em que o examinador dá o grau de bacharel a certo número de estudantes, dos que reputa capazes, examina também os que já são bacharéis de outros exames, e muitas vezes sucede tirar-lhes o grau, se os não acha adiantados, vindo nesta forma os bacharéis a ser examinados tantas vezes quantas são estes exames, enquanto não conseguem os graus de licenciados. Há mais em cada metrópole de cada província uma casa geral de exames de licenciados chamada Kum Yuen [貢院], toda murada e com infinitos aposentos para os examinados, e várias salas para os examinadores, enquanto os mesmos exames duram. Logo que chega o dia destes exames entram os bacharéis opositores, que também são os escolhidos, cada um para o seu aposento unicamente com tinta e papel, e com várias vigias para que se não comuniquem. A forma destes exames, que duram por três dias é a que se segue: no primeiro dia se dá a todos por tema uma senha dos seus livros clássicos, sobre que cada um discorre, e compõem; no segundo dia se propõem a todos para responderem a um caso pendente do governo político do Império; e no terceiro e último dia se lhe dá a todos para decidirem um caso sobre matéria de justiça entre partes. Todas estas composições se entregam ao presidente do exame, que as manda copiar todas por escrivães para que se não conheçam os autores, e assim copiadas são revistas pelos examinadores todos para darem os seus votos, e com o que os mais deles votam se conclui o exame e se publicam os que saiam licenciados, os quais nunca excedem o número que é dado a cada província em cada exame. Por esta mesma ordem se fazem também os exames dos doutores na Corte, e aos mesmos tempos de três em três anos, e depois destes exames têm ainda os doutores umas oposições públicas, aonde o que mais sabe consegue certos privilégios da mais honra que lhe faz o Imperador, dando-lhe com a sua mesma mão um vaso de vinho na ocasião que todos vão à sua presença; e destes doutores é que saem os maiores mandarins da Corte e Império, e também os cronistas gerais do mesmo Império, os quais vivem em um colégio que chamam o colégio

RkJQdWJsaXNoZXIy NzM0NzM2