19 DIREITO DO JOGO portuguesa nunca se interessaram muito pela problemática do jogo, porventura tomando nota do facto de que, não por acaso, as normas de onde arrancam os debates no direito privado se situam no fim do elenco dos contratos tipificados no Código Civil, uma colocação sistemática muito pouco abonadora. g) O leitor não deixará de notar que a obra contém desenvolvimentos de índole histórica de dimensão superior ao normal na investigação jurídica. Cremos que são aprofundamentos importantes: como tantas outras realidades, o direito do jogo deve ser entendido no contexto da sua concreta evolução. Cabe a este propósito explicitar que os subsídios para uma história do jogo que aqui são incluídos não procuram ser um capítulo da história colonial. Não se trata apenas de saber de que forma os sucessivos Governadores portugueses foram gerindo a criação e arrematação de vários exclusivos e concessões de jogo, especialmente com vista a assegurar o financiamento dos cofres públicos, condição essencial do funcionamento das suas administrações. Tal seria uma perspectiva redutora e pouco apropriada. A história do jogo deve ser global e considerar o entrechoque dos sectores público e privado: governo português de um lado, empresários chineses e macaenses do outro. Estes últimos não eram meros sujeitos passivos de uma história desenhada por governadores europeus e tornaram-se bastante poderosos logo muito cedo, sendo capazes de influenciar de modo significativo o comportamento do governo. Há ainda a considerar o impacto da indústria na sociedade macaense em geral. Sucede, porém, que não é fácil dar conta de todas estas dimensões. E se a conduta do governo é por um lado mais decisiva no rumo da indústria e por outro lado mais fácil de investigar, por haver um registo escrito algo detalhado, a investigação esbarra na tendência, seguida durante muitas décadas no seio da administração pública, de falar o menos possível do jogo. Em suma, a espiral hermenêutica é assaz turbulenta. Há múltiplos «ruídos» deformadores, normais numa terra onde a cada passo se alimentam especulações sobre tudo e nada, com ou sem fundamento. O jogo é um mundo que tem mais do que o seu normal quinhão de lacunas, silêncios, parcialidades, ambições, concorrência, rumores e outras descontinuidades e desnortes. Por outro lado, são muitos os silêncios de quem tem na verdade um conhecimento correcto dos factos. Tudo isto coloca grandes desafios ao trabalho de investigação, um esforço eremita ou de navegador solitário. Não é extremamente fácil sulcar estes temas, sendo impossível qualquer pretensão de produzir uma cartografia muito detalhada. Haverá deste modo que fazer um esforço de concentração nas questões conceptuais e regulatórias mais importantes e esperar que haja o engenho e a arte de actualizar e expandir a obra em futuras edições. O leitor poderá detectar na
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