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Fontes Históricas Sobre Macau no Arquivo Histórico de Goa. Séculos XVI a XIX 4 de Macau. Contudo, no caso particular deste antigo estabelecimento português, dada a especificidade da sua existência no âmbito da administração ultramarina na Ásia e a continuidade da sua existência sob o domínio português até aos finais do século XX, a questão dos arquivos adquire contornos particulares. Assim, a inserção deste estabelecimento no âmbito do antigo Estado da Índia e na dependência de vice-reis e governadores que de Goa e até meados do século XIX lhes ditavam as regras da administração, finanças, comércio, defesa e justiça, implicou que grande parte da documentação oficial relativa a essas quatro grandes áreas fosse centralizada e arquivada em Goa. Até à criação em 1844 da Província de Macau, Timor e Solor, independente do Estado da Índia, Goa, a capital do último, revestia-se assim de um carácter “mediador” entre Lisboa, centro de um império multicontinental, e Macau, um remoto e quase residual domínio com características de auto-administração muito particulares. As vicissitudes que em 1961 presidiram à perda dos territórios na Índia e, trinta e oito anos depois, à transferência negociada da soberania Portuguesa em Macau para a China em 1999, reflectem-se no destino logístico desses arquivos. Em Lisboa, sobretudo no Arquivo Histórico Ultramarino e no Arquivo Histórico do Ministério dos Negócios Estrangeiros concentra-se a documentação “de Estado” relativa a Macau no contexto das grandes questões administrativas do Império ou no âmbito das relações internacionais ou especificamente diplomáticas de Portugal. Em Goa, incorporada depois de 1961 num arquivo pertencente à rede de arquivos da Índia, subsiste a documentação de natureza regional com as características próprias do tipo de governação e dependência que ligava Macau a Goa. Em Macau, no arquivo do antigo Senado e no Arquivo Histórico fundado pela administração portuguesa e incorporado naturalmente numa Região Administrativa Especial da China que lhe sucedeu, conserva- se a documentação que respeita sobretudo à administração da cidade e da comunidade local desde o século XVI ao período do pós-guerra. Fácil é, pois, entender que, sem o recurso a uma combinação equilibrada desta documentação conservada ainda hoje nos três polos dessa relação triangular Lisboa-Goa-Macau, muito dificilmente será possível concretizar a ambição de fazer uma história de Macau, por sectorial que seja a perspectiva. A prová-lo está ainda hoje o inigualado estudo que George Bryan Souza dedicou ao comércio e às sociedades portugueses nos mares do Sul da China entre 1630 e 1754. 1 1 George Bryan Souza, The Survival of Empire. Portuguese Trade and Society in China and the South China Sea, 1630-1754. (Cambridge, England, and New York: Cambridge University Press, 1986). Merece similar destaque e pelas mesmas razões a obra de Pierre-Yves Manguin, Les Nguyen, Macau et Le Portugal. Aspects Politiques et Commerciaux d’une Relation Privilegiée en Mer de Chine, 1773-1802, Publications de l’École Française d’Extréme-Orient 134 (Paris: École Française d’Extréme-Orient, 1984).

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